Sábado, 16 de Novembro de 2024

Corpos de vítimas da Covid-19 acumulados em Hospital são retirados no RJ

2020-04-27 às 12:38
Uma mulher idosa olha da varanda enquanto estudantes de medicina realizam exames em meio ao surto de doença de coronavírus (COVID-19), em São Caetano do Sul, São Paulo, Brasil, 14 de abril de 2020

Após o acúmulo de corpos de pessoas vítimas de covid-19 nos corredores do Hospital Municipal Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias, na baixada fluminense, durante o fim de semana, a situação está normalizada nesta segunda-feira (27). Pelo menos 15 corpos estariam no corredor próximo ao necrotério, que tem capacidade para 25 cadáveres, sendo dez deles de vítimas do novo coronavírus.

Segundo a prefeitura de Duque de Caxias, o hospital atendeu, na semana passada, uma média diária de 300 pacientes relacionados à covid-19, com taxa de mortalidade por sintomas respiratórios em torno de 1,5%. Porém, na sexta-feira (24), esse índice chegou a 3%.

“Vale ressaltar que não é uma prática comum na unidade o acúmulo de corpos no corredor do hospital. O que ocorreu neste sábado (25) foi um episódio isolado devido à irresponsabilidade da concessionária que administra os cemitérios da cidade, que demorou horas para atender a solicitação de retirar os corpos da unidade”, informou a prefeitura.

De acordo com a prefeitura, no sábado, funcionários encontraram “corpos amontoados, abandonados pela concessionária no necrotério do Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo, acondicionados de maneira perigosa, oferecendo grande risco para os servidores e demais pacientes internados na unidade”.

Os cinco cemitérios de Duque de Caxias são administrados pela concessionária AG-R Obelisco Serviços Funerários. A prefeitura disse que cobrou a remoção dos corpos da empresa e denunciou a concessionária por crimes e descaso.

“Graças a um contrato obtido de maneira irresponsável, na gestão do ex-prefeito de Duque de Caxias Zito [José Camilo Zito dos Santos Filho], a empresa comete crimes de sonegação fiscal, de desrespeito ao meio ambiente e, o que é pior, trata a morte dos cidadãos com desprezo, aumentando o sofrimento dos caxienses que precisam se despedir dos seus entes queridos”, informa a prefeitura.

A gestão municipal disse que recebeu denúncias de cobrança de preços abusivos para sepultamentos de casos de óbitos por covid-19 no Cemitério Tanque do Anil, no bairro Vila Operária. Um cemitério público foi construído na cidade, com 7 mil gavetas, mas ainda aguarda autorização para entrar em funcionamento com serviços gratuitos.

Em nota, concessionária AG-R disse que a retirada dos corpos foi feita assim que solicitada pelo poder público, no sábado, e que, como empresa privada, não tem “qualquer ingerência sobre a administração do Hospital Dr. Moacyr do Carmo”.

“Nos causa muita estranheza o fato da prefeitura ser a administradora do hospital e reclamar conosco sobre corpos encontrados em seu próprio necrotério. O hospital não recebe corpos, recebe pacientes, acolhe pessoas vivas. Os corpos que estão lá são de pessoas que morreram naquele nosocômio [hospital], disse a empresa.

A concessionária destacou que, apesar de não constar como obrigação contratual, está mantendo desde sábado uma equipe no hospital municipal, “devido aos recentes episódios de aparente desorganização da administração pública”.

“Resta clara a má fé da Prefeitura em manchar a imagem da empresa que está tomando as providências que deveriam ser tomadas pela administração pública, tais como investimento que fizemos em contêiner frigorífico para guardar separadamente os corpos com suspeita ou confirmação de morte por covid-19”, acrescenta a nota da empresa.

A concessionária ressaltou que está preparada para um aumento no número de atendimentos, mantendo uma reserva estratégica de vagas e um estudo diário da evolução da demanda. Também informou que está em dia com todas as obrigações fiscais, bem como ambientais, e ganhou um processo com liminar contra a prefeitura.

Situação na cidade

Segundo o balanço de ontem (26) da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Duque de Caxias é o terceiro município fluminense com mais casos de covid-19 confirmados, com 300 no total, atrás da capital e de Nova Iguaçu, e o segundo em número de mortos, com 63 vítimas da doença contabilizados até o momento na estatística oficial.

A prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis, foi internado com covid-19 no dia 11 de abril e recebeu alta na quarta-feira passada (22). Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, ele está em casa e passa bem.

Sobre o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, conhecido como Hospital de Saracuruna, também em Duque de Caxias, a secretaria informou que a unidade está dentro da normalidade.

Contêineres frigoríficos

Os hospitais da rede municipal do Rio de Janeiro começaram a adquirir contêineres frigoríficos para o acondicionamento provisório de corpos. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a medida é preventiva, para aumentar a capacidade dos necrotérios e dar suporte às unidades de saúde.

Com isso, os contêineres no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, zona norte da cidade, serão usados para manter corpos de pacientes mortos por suspeita de covid-19 em unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da região, até que as famílias providenciem os trâmites para o sepultamento.

No Souza Aguiar, no centro, os equipamentos atenderão também a Coordenação de Emergência Regional (CER) Centro e a Maternidade Maria Amélia, além de eventual necessidade de outras unidades. O Hospital Evandro Freire, na Ilha do Governador, também já adotou a medida.