A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) do Rio de Janeiro adiou para setembro a decisão sobre o carnaval de 2021. Durante uma reunião na sede da entidade, no centro do Rio, ontem à noite (14), os representantes das 12 escolas do Grupo Especial concluíram que, diante da indefinição causada pela pandemia da covid-19 e enquanto não houver vacina para combater a doença, as datas previstas dos desfiles do ano que vem (14 e 15 de fevereiro) podem não ser mantidas.
A Liesa aguarda a posição das autoridades e a evolução científica na busca por medicamento ou desenvolvimento da vacina. Para a entidade, setembro é o prazo máximo para definir se é possível a realização do carnaval do ano que vem.
Em setembro, haverá uma nova reunião para avaliar a situação. O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, lembrou que os desfiles costumam causar aglomerações e, por isso, a realização fica difícil sem uma garantia de segurança da saúde dos integrantes das escolas e do público.
“Imaginamos ter um desfile das escolas de samba em fevereiro, se houver uma vacina. Sem a vacina não temos como fazer este tipo de evento com aglomeração, porque o carnaval é isso. O jogo de futebol pode acontecer sem plateia, a Fórmula 1 pode acontecer sem plateia, mas os desfiles das escolas de samba não podem ocorrer sem aglomerações dos desfilantes ou de quem está assistindo”, disse.
Para o carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, é bom ver a ponderação e a prudência da Liesa em só enxergar a viabilidade dos próximos desfiles com a existência da vacina para a covid-19.
“Aguardar a passagem dos dias postergando decisões é o que tenho defendido publicamente desde o princípio das incertezas. A decisão de esperar o desenrolar do cenário até setembro para uma resolução definitiva, com a análise da evolução do quadro, na esperança do tão sonhado controle da pandemia, é dar vez à sensatez e à postura pública compromissada que sempre cobramos da entidade”, disse à Agência Brasil.
Na visão do carnavalesco, a decisão reforça a importância das agremiações na cadeia produtiva que gera empregos e renda para muitos trabalhadores.
“Sem o atropelo das decisões e a banalização da doença, a decisão acertada reforça que o desfile das escolas de samba não é apenas uma das mais potentes manifestações culturais brasileiras, mas também uma cadeia produtiva que gera milhares de empregos e renda para um número sem tamanho de trabalhadores, onde me incluo”, observou.
Além da Mangueira, Leandro Vieira é carnavalesco do Império Serrano, escola da Série A. “Quero ver na avenida a Mangueira e o Império. É fundamental, contudo, colocar em primeiro lugar a saúde de quem desfila, trabalha ou estará na Sapucaí como público. Escola de samba só é grande porque é o material humano que dá todo o sentido ao carnaval. As escolas e a entidade que lhes representa são maiores e se agigantam quando se mostram conscientes do seu papel social e cultural, indo muito além do dia do desfile”, completou.
Em situação normal, as escolas estariam envolvidas nesta época do ano na seleção dos sambas com os quais desfilariam no Sambódromo e a organização dos enredos com os preparativos de fantasias e carros alegóricos nos barracões da Cidade do Samba, na região portuária do Rio. Agora, tudo mudou.
Das 12 escolas, oito escolheram enredos: Beija-Flor, Grande Rio, Mocidade Independente de Padre Miguel, Paraíso do Tuiuti, Portela, Salgueiro, Unidos de Vila Isabel e Viradouro. Já a Imperatriz Leopoldinense, que voltou ao Grupo Especial, a São Clemente, a Unidos da Tijuca e a Mangueira ainda não definiram o enredo de 2021.
Leandro Vieira, carnavalesco duas vezes campeão pela Mangueira (2016 e 2019), disse que, neste período de isolamento social, produziu material de criação para dois carnavais, mas ainda analisa o que a escola vai apresentar na Marquês de Sapucaí.
Na Viradouro, Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira, campeões do Grupo Especial em 2020, estão trabalhando adiantando o que podem a distância do barracão na Cidade do Samba, na região portuária da cidade.
“A gente está fazendo desenhos de figurinos e fantasias e desenvolvendo pesquisa descrita no enredo. No ano passado, nessa época, a gente já estava no barracão começando os protótipos, que são os primeiros figurinos de ala para poder produzir. Este ano, esse trabalho ainda não começou por segurança das pessoas”, explicou.
A Prefeitura do Rio disse, em nota, que, diante dos esforços para salvar vidas e controlar a doença na cidade, neste momento, ainda não é possível falar em definição sobre o Carnaval Rio 2021 em função da pandemia.
O planejamento do carnaval é complexo e, no cenário atual, requer cuidados especiais. A festa reúne milhões de pessoas e, durante folia, há uma intensa movimentação na cidade, incluindo o aumento do uso do transporte público. A Prefeitura do Rio, por meio da Riotur, vem estudando alternativas para diversos cenários.
Sobre os ingressos do setor turístico para os desfiles no Sambódromo, a prefeitura afirmou que a Liesa pediu que a venda só começasse após uma definição da entidade sobre os desfiles de 2021.
A prefeitura informou ainda que a Riotur, mantém conversas com o Ministério Público para o desenvolvimento do Caderno de Encargos do Carnaval de Rua, com vigência para os carnavais de 2021, 2022 e 2023. “Em caso de adiamento para o próximo ano, o Caderno de Encargos será válido também por três anos, que seriam os subsequentes (2022, 2023 e 2024).
Imagens/informações: Agência Brasil.