Sexta-feira, 20 de Setembro de 2024

O que se sabe sobre a variante brasileira do novo coronavírus?

2021-03-02 às 15:05

Ao mesmo tempo em que o mundo faz campanhas de vacinação, o surgimento de variantes do coronavírus Sars-CoV-2 potencialmente mais transmissíveis preocupa os cientistas. Apesar de estudos ainda estarem em andamento, há o temor de que elas diminuam a eficácia dos imunizantes já autorizados.

Detectada e notificada pela primeira vez no Japão, no início de janeiro deste ano, a variante brasileira ou amazonense, chamada P.1, ainda foi pouco estudada. Segundo o Ministério da Saúde nacional, há mais de 200 casos da registrados no país, incluindo algumas reinfecções – em 17 estados brasileiros.

No mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 30 países já detectaram a nova variante. A infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Nancy Bellei, que tem mestrado e doutorado em doenças infecciosas e parasitárias, explica à ANSA que há diferenças entre as mutações das variantes brasileira e sul-africana e as daquela britânica.

“A cepa do Reino Unido, que já dominou vários países, tem uma mutação específica na região da proteína spike do vírus [receptor-blinding domand]. Essa é a região principal da ligação do vírus com a célula e para a qual nós fazemos anticorpos imunizantes”, diz Bellei, destacando que a alteração determina uma “falta de aminoácidos” nessa porção do Sars-CoV-2.

A proteína spike, ou espícula, é a “chave” com a qual o vírus entra nas células humanas, e essa mutação, que ganhou o apelido de Nelly (N501Y), é encontrada nas três variantes. “A cepa sul-africana tem várias mutações, uma delas na região receptor-blinding domand, que é a E484K. A P.1. também tem várias mutações, e uma delas também é a E484K, que a gente chama de Erik”, acrescenta.

O virologista José Eduardo Levi, pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), destaca à ANSA que as variantes sul-africana e brasileira “são bem parecidas” e estão “mais distantes” da cepa britânica.

“Cada variante é diferente uma da outra pelas mutações, e é isso que define uma variante. E a variante P.1 tem mutações em uma região do vírus que sempre preocupa mais os cientistas, que é nessa parte que chamamos de spike”, pontua.

Segundo Levi, as alterações nos vírus podem ser de três tipos: neutras, que não melhoram nem pioram a vida dele; prejudiciais, que fazem com que a variante acabe desaparecendo; ou que podem melhorar, o que, na prática, significa uma maior capacidade de infecção e uma maior taxa de transmissão.

“As variantes sul-africana e a P.1 têm outra modificação associada com o escape da resposta imune, então elas já são piores no sentido de ser mais transmissíveis e competentes na capacidade de escape à resposta imune, por exemplo, sendo capazes de reinfectar quem teve covid uma vez”, diz.

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