As organizações estão preparadas para a nova ordem social, econômica e política, em Tempos Líquidos*?
Nos conteúdos anteriores falamos da possibilidade da incompreensão, por parte dos gestores, na aplicação do Marketing e da Comunicação nas decisões organizacionais, e na teoria da “Miopia de Marketing” (Levitt, 1960), quando os próprios gestores voltam as estratégias para seus produtos/serviço ao invés das reais necessidades das pessoas.
Nesse cenário, fica claro que as PESSOAS devem ser o foco de qualquer estratégia, afinal são esses “CLIENTES” que irão garantir o resultado desejado de qualquer tipo de organização.
Diante disso, introduzimos nessa reflexão, a necessidade de entender o que as pessoas pensam atualmente, qual a compreensão de sociedade e valores que possuem, para podermos de fato, tomar uma decisão estratégica assertiva de Marketing e Comunicação.
Assim, é oportuno incluirmos nesse conteúdo Zygmunt Bauman, filósofo e sociólogo polonês que faleceu em 2017, que nos deixou uma das mais valiosas reflexões sobre as relações sociais, econômicas e de produção, e como se tornaram frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos, no que chamou de “Modernidade líquida”.
A partir do século XX, percebe-se uma mudança na estrutura de sociedade, saindo de um modelo de produção para uma sociedade do consumo, marcada por uma intensa produção de mercadorias e bens, e uma acelerada evolução tecnológica, provocando uma ruptura nos padrões sociais, econômicos e políticos, e uma mudança nas ideologias e nos paradigmas existentes.
“Para Bauman, a revolução consumista é caracterizada por um volume e uma intensidade de desejos sempre crescentes, destinado à promoção de segurança do consumidor. “
Surge uma fase onde as pessoas se veem perdidos em meio a tanta mudança, e ela própria começa a se desfazer de certos valores e modifica-los, inclusive, dando uma nova tradução ao conceito de felicidade, que deixa de ser subjetivo e passa a ser mensurável por objetos e significação.
E como podemos associar o Marketing e a Comunicação a essa nova ordem social, econômica, política e tecnológica?
O Marketing deve estar atendo a inovação tecnológica constante e utilizar ferramentas que permitem produzir dados de mercado e comportamentais, que possam ser transformados em informações significantes, para a identificação de novos hábitos e valores, propondo ou adaptando os produtos/serviços das organizações frente às novas expectativas das PESSOAS. A Comunicação segue o mesmo caminho, agora mais fragmentada diante do surgimento de novos clusters, porém ainda mais potente quanto ao alcance desejado.
Vejamos os exemplos da NETFLIX e SPOTIFY, segundo análise da Comscore realizada entre fevereiro de 2022 e fevereiro de 2023, o STREAMING é um dos formatos mais populares de consumo de mídia, tanto vídeo quando música, por isso, conhecer como são utilizadas as plataformas que oferecem esse tipo de serviço é muito importante para entender o público. Nesse estudo, a SPOTIFY é a plataforma de streaming mais usada, consumindo, em média, 13h26min de áudio por mês, e a NETFLIX é líder em acesso (desktop + mobile), com média de 50 milhões de visitantes únicos e 350 milhões de visualizações de vídeos por mês. 45% dos usuários de internet concordam que os serviços de STREAMING de TV mudaram o modo como veem televisão, e 30% assistem mais televisão do que antes por contas desses serviços.
São tendências que precisam estar em constante monitoramento para que as decisões estratégicas estejam direcionadas ao que o público-alvo deseja e percebe, e não apenas o que as organizações querem e podem entregar. Para isso, profissionais com essa qualificação, juntamente com softwares inovadores fazem a diferença, e são cada vez mais necessários em qualquer equipe de marketing e comunicação, pois a intuição apenas, não é mais suficiente para garantir sozinha os resultados desejados pelas organizações.
Prof. Me. Lúcio Olivo Rosas
Mestre em Comunicação e Semiótica: Significação das Mídias.
luciorosas.com.br
Dicas para leitura sobre o tema:
BAUMAN, Z. A Arte da Vida. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009
BAUMAN, Z. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Editora Zahar 2008.
BAUMAN, Z. Tempos líquidos. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.