Conhecido por pinturas que retratam a cidade de Ponta Grossa, o artista plástico ponta-grossense Saulo Pfeiffer vem ganhando notoriedade em outro campo: o das pinturas de temas militares. Segundo ele, explorar essa temática em sua obra é uma forma de unir duas de suas maiores paixões: arte e história militar. “Eu sinto que, por meio da arte, consigo saciar o meu interesse nesse ramo”, afirma.
Com cerca de 20 obras dedicadas a esse universo já produzidas, o artista conta que, embora não tenha servido ao Exército, o militarismo e os momentos históricos ligados aos militares sempre chamaram a sua atenção. “Tenho muita admiração pela vida militar, pela disciplina, pelo heroísmo, e também pela questão histórica, já que os militares sempre estiveram presentes na história”, explica.
Tradição antiga
Uma tradição antiga, que remonta ao Egito do ano 3.500 A.C., as pinturas de guerras eram muito comuns antes da invenção da fotografia. “Antigamente, era tradição os exércitos levarem artistas para retratar as batalhas, porque não tinha como registrar, já que não existia a fotografia. Os chamados artistas de guerra são uma coisa muito antiga”, aponta Saulo.
Em razão das novas formas de registro, a temática foi deixada de lado por muitos dos pintores mais recentes. “Eu comecei a pesquisar artistas brasileiros que trabalham esse tema e não encontrei praticamente ninguém”, revela.
Documentos históricos
Entre os desafios apresentados pela temática militar, o ponta-grossense destaca o embasamento histórico exigido para as obras. “Eu quero que os meus quadros sirvam como documentos históricos. Sendo assim, eles precisam estar muito bem embasados no que realmente aconteceu, nos mínimos detalhes”, observa.
Ele ressalta que os militares e apreciadores da arte militar costumam ser extremamente exigentes e detalhistas. “Um erro no uniforme pode ser objeto de crítica”, conta. Para evitar equívocos, o artista conta com o apoio de assessores, como diretores de museus, militares, historiadores e entusiastas da história militar.
Parceria
A porta de entrada do artista no universo militar ocorreu por meio do 13º Batalhão de Infantaria Blindada (13º BIB) de Ponta Grossa. “Eu conheci o Saulo em uma exposição dele. Conversei com ele e perguntei se não faria um quadro para nós. Ele gostou muito da ideia, já que sempre teve interesse no tema, mas não conhecia nenhum militar”, conta Edson Lopes, amigo do artista e Sargento do 13º BIB.
Dessa parceria nasceram duas obras: ‘A Grande Marcha’ e ‘Batismo de Fogo’. “São duas obras que retratam fatos históricos dos quais o 13º BIB participou durante a revolução de 1924”, explica Lopes.
A partir disso, muitas portas se abriram. Hoje o artista tem trabalhos expostos em diversos quartéis, como, por exemplo, o 15º Grupo de Artilharia de Campanha de Autopropulsado, na Lapa (PR), e o Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ). “Ele é um excelente artista que está despontando. São poucas as pessoas que retratam a história militar. Por isso é muito importante ter um artista como ele por perto”, completa.
Obra predileta
A obra de temática militar predileta de Saulo, dentre as produzidas por ele mesmo, é ‘Batismo de Fogo’, feita para o 13º BIB. “Não só por ter me dado mais trabalho, mas porque essa obra superou as minhas expectativas”, explica.
Ele conta que o processo de produção da tela também foi um diferencial, já que pôde visitar o local da batalha. “Fui até o lugar, com o Sargento Lopes, e tiramos várias fotos para documentar bem”, acrescenta.
Processo de produção
De acordo com o artista, o processo de produção de um quadro com essa temática leva em torno de duas a três semanas. “A pesquisa, o enredo todo que envolve, é a parte mais demorada. E depois tem os esboços. Quando eu entro na parte da tinta, é porque tudo já está encaminhado”, detalha.
Entre os temas presentes nesse universo, Saulo diz que prefere aqueles que envolvem animais, principalmente os cavalos. “Os cavalos são sempre bem cuidados, bem apresentáveis, fortes. Acaba que forma um conjunto interessante o cavalo com o militar”, comenta.
O artista calcula que já tenha produzido cerca de 20 obras de temas militares, a maioria feita por encomenda de quartéis ou de admiradores do tema. “Tenho três quadros em andamento, que foram encomendas. Um da Guerra do Contestado; um sobre o sargento paranaense Max Wolf, que morreu na 2ª Guerra Mundial; e um sobre a participação da FAB [Força Aérea Brasileira] na 2ª Guerra Mundial”, diz.
Exposição em Brasília
Entre os planos de Saulo, está uma exposição somente com telas de temáticas militares. “Tem um coronel em Brasília, diretor da Escola Superior de Guerra, que está arrecadando patrocínio para fazer uma exposição dos meus quadros lá. Seriam dez telas de temas de 2ª Guerra Mundial”, revela.
Por Camila Delgado | Foto: Divulgação