“O distanciamento do foco e diminuição ou desinteresse norte-americano sobre a região permitiu que o Brasil avançasse como potência regional. O país ampliou o elo com vizinhos, em parte realizando tarefas que antes cabiam aos EUA na área de segurança e paz. Não por acaso, passamos a atuar no Haiti. Começamos a agir em nome de alianças globais. Os EUA combatiam terroristas. Seus aliados, como o Brasil, podiam resolver questões de segurança e paz”, explica Diniz.
A militarização e demonstração de força dos EUA naquela época tiveram paralelos em outras partes do globo. “Havia um aumento do multilateralismo e prevalência do sistema liberal capitalista. Depois do atentado, houve a volta do territorialismo, recrudescimento das fronteiras, um fortalecimento do Estado, acirramento da questão do extremismo e a volta da religião na discussão nacional”, pontua o professor de relações internacionais da PUC Minas Jorge Lasmar.
Desde 2001, nunca mais se viu um atentado com as dimensões cinematográficas do ataque às Torres Gêmeas — embora o terrorismo não tenha deixado de existir e atos extremistas tenham continuado a ocorrer nos EUA e na Europa, por exemplo. Especialistas não descartam, entretanto, que investidas em escala voltem a ocorrer.
“É possível, mas não necessariamente provável. Grupos ainda têm interesse nisso. A guerra ao terror continua, mas não mais sobre essa guisa, e ela deixa de ser o ponto central da política externa norte-americana”, avalia o professor de relações internacionais da PUC Minas Jorge Lasmar.
Em meio a outras formas de terrorismo, como ataques cibernéticos, o professor Carlos Poggio ressalta que os perigos domésticos tornaram-se mais perigosos nas últimas décadas. “O mundo mudou muito e não é preciso mais pilotar a uma torre como no 11 de Setembro. O que viaja, hoje, são ideias, não pessoas. O terrorismo transnacional, hoje, é menos perigoso para os EUA, mas há os atentados de indivíduos que estão dentro do país”, conclui.
Em 11 de setembro de 2001, quando quatro aviões comerciais foram sequestrados por 19 terroristas da Al-Qaeda e foram lançados contra as Torres Gêmeas (NY) e Pentágono - além de um quarto que os passageiros reagiram e caiu na Pensilvânia, vários sinais haviam tocado e foram ignorados., Como o ataque anterior ao próprio WTC, os atentados às torres Khobar na Arábia Saudita, às embaixadas na Tanzânia e no Quênia, bem como ao navio de guerra norte-americano USS Cole. Além disso, o crescente fundamentalismo no Oriente, as ameaças de Osama Bin Laden e a intensa movimentação de radicais que treinaram pilotagem livremente nos Estados Unidos.
Entenda como todos esses fatores se juntaram em uma verdadeira trajetória do terror que ajudou a construir a história que hoje vivemos.
Viajar de avião se tornou uma sucessão de procedimentos de segurança após o atentado ao World Trade Center, iniciado com o sequestro de duas aeronaves em Boston, nos EUA. Da vistoria reforçada de passageiros à ampliação da proibição de itens nos aviões, mudanças decorrentes dos ataques perduram até hoje nos aeroportos de todo o mundo.
“Havia temor na indústria, porque sabíamos que o que aconteceu nos EUA poderia acontecer em qualquer país. O Brasil sempre quis se envolver menos nas questões internacionais, mas eu, por exemplo, trabalhava em uma companhia aérea que fazia voos para os EUA, então (observava que) nada impedia riscos envolvendo essas aeronaves. Até hoje, há profissionais contratados pelas companhias aéreas para inspecionar quem entra na aeronave, de forma a mitigar esses riscos. Não é qualquer pessoa que trabalha no aeroporto que pode entrar na aeronave, por exemplo”, explica o gestor de operações, segurança e emergências da BH Airport, que gerencia o Aeroporto Internacional de Confins, Robson Freitas.