No sábado passado, como de hábito, o mergulhador americano Zach Moore partiu da pequena cidade de Key West, no extremo sul da Florida, para mais uma sessão de varreduras no fundo do mar em um ponto específico da região, a 32 quilômetros da costa.
O local era o mesmo de sempre – o mesmo onde, 36 anos atrás, foram encontrados os restos do galeão espanhol Nuestra Señora de Atocha, que afundou em 1622, com uma quantidade de riquezas até hoje não claramente definida.
Era apenas mais um mergulho rotineiro, como tantos outros que ele já havia feito naquele local, em busca de algum eventual novo achado nos escombros do velho galeão, já totalmente soterrados na areia
Mas, daquela vez, seria diferente.
Munido, como sempre, com um detector de metais, bastaram cinco minutos debaixo d´água para que o equipamento de Zach começasse a apitar – sinal de que havia algo soterrado na areia.
Poderia ser apenas um pedaço recente de ferro ou – quem sabe? – com boa dose de sorte, um prego enferrujado do casco do velho galeão.
Zach, então, começou a esfregar o fundo, espalhando delicadamente a areia, para ver o que havia ali.
E o que ele viu o deixou eufórico – uma espécie de pedrinha, cobertas de resíduos e incrustados, que só olhos muito bem treinados, como os dele, poderiam identificar como sendo o que realmente era: uma moeda de prata do século 17.
Mais uma, entre as estimadas centenas que aquele galeão transportava, na sua fatídica volta a Espanha, que terminou durante uma tempestade.
Ele, então, voltou à superfície para comemorar com a equipe.
Divulgação/Mel Fisher Expeditions
Mas o melhor ainda estava por vir.
Horas depois, em seu segundo mergulho do dia, o detector de metais de Zach disparou de novo, no mesmo local.
Era uma segunda moeda.
Mas, desta vez, de ouro – a 121a recuperada do mais famoso tesouro afundado da costa americana e a primeira a ser achada nos últimos 20 anos.
Ao contrário da moeda anterior, aquela era facilmente identificável, porque o ouro, ao contrário da prata, não sofre nenhuma oxidação no mar, mesmo após quase quatro séculos debaixo d´água.
“Eu quase me belisquei para ter certeza de que não estava tendo uma alucinação. Ela estava lá, afundada na areia há 399 anos, mas ainda brilhando. Custei a acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo”, disse Zach, ao retornar à cidade, com o seu valioso achado.
Valioso mesmo.
Segundo especialistas, dependendo da origem e outros detalhes, uma moedinha daquelas, embora com pouco mais de dois centímetros de diâmetro, pode chegar a valer 98 000 dólares, ou o equivalente a meio milhão de reais – não só pelo ouro, obviamente, mas pelo seu valor histórico.
Zach, contudo, não ficará com a moeda, já que ele trabalha para uma empresa que, há quase meio século, se dedica exclusivamente a busca do tesouro completo daquele galeão espanhol.
“Ainda há muita coisa do Atocha para ser encontrada”, garante Melissa Wallis, Chefe de Relações com Investidores da Mel Fisher Expeditions, a tal empresa na qual Zach trabalha.
“Com base nos documentos da época, estimamos que ainda há o equivalente a uns 300 milhões de dólares em objetos preciosos dele no fundo do mar, fora o que transportava ilegalmente, como era costume na época”.
O exato local do naufrágio é um segredo guardado a sete chaves pela empresa e só permitido aos seus mergulhadores – embora investidores particulares ou associados do museu que foi criado para exibir parte do que já foi encontrado também possam fazer mergulhos esporádicos no local, desde que acompanhados de funcionários.
Mas nem assim é fácil, porque estima-se que, ao afundar, varrido pela tempestade, o Atocha tenha de despedaçado e espalhado sua preciosa carga por uma área enorme.
Atualmente, a região vasculhada chega a ser de 20 quilômetros quadrados, o que torna as descobertas cada vez mais difíceis. E raras. Daí a alegria de Zach com o achado de sábado passado.
Foi a primeira vez que Zach, de 28 anos, achou algo tão valioso.
Mas ele sempre esteve acostumado a conviver com tesouros.
Tanto seu pai quanto sua mãe fizeram parte da equipe original que encontrou o Nuestra Señora de Atocha, quase quatro décadas atrás, considerado um dos mais fabulosos tesouros submarinos já encontrados.
Naquela ocasião, uma impressionante quantidade de prata, ouro e esmeraldas foram retiradas do mar, perfazendo uma fortuna avaliada em cerca de 400 milhões de dólares, ou o equivalente a mais de 2 bilhões de reais em dinheiro de hoje.
“Cresci ouvindo histórias de tesouros encontrados e isso me fez querer ser, também, mergulhador do Atocha. Sou a segunda geração de exploradores de um mesmo naufrágio. E nada indica que vá parar por aqui”, diz Zach.
O naufrágio do Nuestra Señora de Atocha aconteceu em outubro de 1622, quando uma frota de oito galeões espanhóis que havia partido de Havana rumo à Espanha, levando o fruto de anos de exploração das minas de prata, ouro e esmeraldas da América do Sul e Central, foi colhida por um furacão na costa da atual Florida.
Dois deles afundaram.
Um era o Atocha, nau líder da frota e, por isso mesmo, a mais valiosa.
Cerca de 250 homens morreram na tragédia e os sobreviventes registraram o fato para a História. Mas foi só 363 depois que os restos do galeão foram encontrados.
Quem achou os restos do cobiçado galeão espanhol foi o mergulhador Mel Fisher (cujo nome hoje batiza a empresa que segue buscando novos tesouros), 36 anos atrás.
Em 20 de julho de 1985, após 16 anos de uma obstinada busca, que custou até a morte do seu filho, Fisher, um ex-criador de galinhas, encontrou o que tanto buscava e ficou rico.
Mas passou a ver achados desse tipo de outra forma – clique aqui para conhecer a história do mais determinado caçador de tesouros submarinos dos Estados Unidos, que, como se viu no sábado passado, até hoje rende frutos.