Por Igor Rosa
Terminar o Ensino Médio e ingressar em uma faculdade é privilégio para poucos. São tantas as dificuldades que distanciam os brasileiros do sonho da graduação, porém nenhuma delas foram barreiras para que Gabriel Fonseca, de 22 anos, concluísse o Ensino Superior em Comunicação Social pela UniSecal. Com a conclusão do curso, Ele se tornou o primeiro jornalista com deficiência visual de Ponta Grossa. A formatura aconteceu há duas semanas e gerou comoção entre os colegas e a plateia.
A VIDA NO ESCURO
Gabriel Fonseca nasceu em 18 de Julho de 1997 com a síndrome de Norrie. Esta é uma doença genética rara ligada ao gene recessivo NDP no cromossoma X, que pode provocar cegueira, mudez, surdez e muitas vezes atraso mental. “Nasci totalmente cego. Não enxergo absolutamente nada”, conta o jovem. “Como sou deficiente visual, meus outros sentidos foram recompensados, como por exemplo: o tato, a audição, o paladar e o olfato. Eu consigo ver o mundo por esses outros sentidos. As maiores dificuldades que enfrentei até hoje são referentes à mobilidade. As vezes me atrapalho um pouco ao andar nas ruas de Ponta Grossa por causa das irregularidades”, explica.
O CAMINHO DA GRADUAÇÃO
Gabriel conta que teve a ajuda de muitas pessoas para conquistar o objetivo. “Com três meses fui para APADEVI [Associação de Pais e Amigos do Deficiente Visual] e comecei a ser estimulado. Lá eles me ajudaram em muita coisa. Quando entrei para o Ensino Fundamental, eles me deram todo o suporte para aprender a leitura e escrita em braile, orientação, mobilidade e adaptação de materiais para pessoas com deficiência”, explica Gabriel.
De lá pra cá, as dificuldades se tornaram combustíveis para alcançar o grande sonho de infância: Ser graduado em Jornalismo.”Não foi fácil, mas estou muito feliz em ser o primeiro jornalista graduado de Ponta Grossa”, comemora.
A REALIZAÇÃO DE UM SONHO
Em 2016 Gabriel conseguiu ingressar na faculdade através da nota do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Um momento de muita alegria e de muitos desafios. A UniSecal teve que se adaptar às necessidades do jovem acadêmico. “Foi feito um trabalho de adaptação de espaço e metodologias. Tivemos que colocar piso tátil, placas em braille, toda a parte de acessibilidade. Nas aulas, por exemplo de televisão e fotografia, tínhamos uma pessoa para fazer audiodescrição”, conta Helton Costa, coordenador do curso de Jornalismo da UniSecal.
Para que o jovem acadêmico pudesse aprender com mais profundidade, diversas atividades diferenciadas foram aplicadas. “Os professores fizeram o trabalho de um jornal que ele pudesse tocar para ter uma noção de diagramação. Para mim foi muito desafiador, no sentido de preparar os professores. Nós contamos com a ajuda da APADEVI e dos pais dele, o que facilitou muito”, explica. “Ele não teve um tratamento diferenciado, ele teve o mesmo conteúdo de todos, nós só tivemos que adaptar os métodos de ensino”, complementa o coordenador.
Após quatro anos, Gabriel concluiu o tão sonhado curso de graduação. “Eu sonhava desde criança em ser jornalista. Sempre gostei da parte de comunicação, escrita, falar com as pessoas”, revela. “Meu maior sonho é trabalhar na televisão, principalmente com microfones, fazendo matéria, apresentado telejornais, mas também fico feliz em trabalhar com a assessoria de imprensa”, conta Gabriel, que já está com uma vaga garantida para assessoria parlamentar na Assembleia Legislativa do Paraná.
Gabriel Fonseca enfrentou os obstáculos de uma vida no escuro e conquistou o diploma que almejava. Durante a formatura, foi aplaudido em pé, como forma de reconhecimento de todo o esforço dispensado para conseguir ser chamado de jornalista.
Veja o vídeo que Gabriel gravou para o D’Ponta News.
Veja o momento em que o primeiro jornalista cego de PG recebe o diploma de graduação.
Veja a entrada do primeiro jornalista cego de PG no baile de formatura