Se você mora em Ponta Grossa e tem alguma ligação com as artes marciais, provavelmente já ouviu falar de Carlos Pylypiec, o “Carlão”. Aliás, não só ouviu falar, como também ouviu elogios, recordações e agradecimentos a ele. Não é por acaso. Além de ter formado muitos dos principais mestres de Muay Thai de Ponta Grossa e região, como Alfredo Antonio de Oliveira Neto, Nei Taques, Sideval Pinheiro, Steve Augusto Vieira e outros, Carlos também realizou alguns dos primeiros eventos oficiais de MMA (sigla em inglês para “artes marciais mistas”) e é considerado o principal responsável pela profissionalização da luta tailandesa no município.

Mas você sabe como ele chegou ao patamar de lenda viva do esporte? A história começa na década de 80. “Como eu era atleta de outras modalidades, como Judô e Atletismo, andei por vários lugares. Lá por 1985, eu tinha amigos que praticavam Muay Thai em Curitiba, e fui convidado a conhecer uma academia. Achei muito estranha a modalidade, lembro até hoje que eu pensei que nunca mais voltaria. Mas, para a minha surpresa, no final de 1988 eu estava fazendo as minhas primeiras aulas”, recorda. Na memória, ele traz as canelas roxas após a aula inaugural e os ensinamentos de seu primeiro mestre, Edinei Pedroso, hoje grão-mestre.

“Achei muito estranho o Muay Thai quando o conheci. Cheguei a pensar que nunca mais voltaria a treinar” (Carlos Pylypiec)

Já fascinado pelo Muay Thai, em Ponta Grossa, Carlos teve aulas com Oclecios Líder Martins, um dos primeiros faixas pretas da modalidade no município. Como tinha muitos conhecidos em Campinas (SP), ele se mudou para lá, a fim de treinar com o mestre Paulo Nikolai, que o acolheu em sua academia até ele conquistar a faixa preta, em 1995. Paralelo a isso, Carlos já lutava por um lugar ao sol em Ponta Grossa. Em 1993, ele havia montado um espaço para aulas e treinamentos junto a uma academia de musculação. E, no dia 18 de janeiro do ano seguinte, formaria a primeira academia e equipe oficial de Muay Thai do município, a Liberdade, reconhecida pela Confederação Brasileira de Muay Thai (CBMT).

Em 2018, a carreira de Carlos como professor de Muay Thai chegou ao grau máximo com o recebimento do título oficial de grão-mestre pela Confederação de Muay Thai do Brasil (CMTB), emitido em reconhecimento aos seus “30 anos de dedicação e empenho no crescimento da modalidade”.

“Eu poderia ter lutado mais, mas acho que chequei no top da minha modalidade na época certa” (Carlos Pylypiec)

O lutador

O que nem todos sabem é que Carlos também teve uma carreira como lutador. Em sua história como atleta, ele carrega os títulos de campeão sul brasileiro, campeão brasileiro, campeão sul-americano e vice-campeão pan-americano, pela Confederação Brasileira de Kickboxing (CBKB). “Fui atleta até onde o compromisso financeiro me permitiu. Depois que eu me casei, as coisas mudaram, e, com a chegada do primeiro filho, o compromisso mudou de foco. Poderia ter lutado mais, mas acho que chequei no top da minha modalidade na época certa”, avalia. Entre os lutadores que ele mais admira, estão os brasileiros Saulo Cavalari e Anderson Silva, e os holandeses Peter Aerts e Ramon Dekkers.

E o técnico

Atualmente, a academia de Carlos, a Capy Brazil Team, recebe regularmente a presença de importantes atletas de seus alunos. “Hoje, o grande destaque é a Valdirene Stanski, atleta do mestre Alfredo [Antonio de Oliveira Neto] e a nossa maior representante no esporte de ringue”, cita. Valdirene possui os títulos de campeã mundial, disputado em Budapeste (Hungria), campeã da Copa do Mundo e vice-campeã mundial, disputado em Sarajevo (Bóznia e Herzegovina). “O atleta está em cada aluno que vem treinar. Cabe a nós, professores, lapidar, auxiliar e moldar o seu caráter esportivo. No final, essa sensação não tem preço”, ensina.

“Com o o Jiu JItsu foi paixão à primeira vista” (Carlos Pylypiec)

Jiu Jitsu

Mas não é apenas no Muay Thai que Carlos Pylypiec possui uma rica história. A luta agarrada também sempre esteve presente em sua vida. Ele iniciou no Judô em 1979, por meio do professor José Roberto Ribas, mas, como a família não tinha condições financeiras para lhe comprar um quimono, a atividade se restringiu a participar dos treinos. Já com o Jiu Jitsu, a história foi outra. “Fomos em um campeonato de Kickboxing em São Paulo, e lá estava acontecendo também um evento de Jiu Jitsu. Foi paixão à primeira vista”, revela.

Pouco tempo depois, começaram a ocorrer os treinos em Ponta Grossa. Na equipe de Carlos, o mestre Steve Augusto Vieira era o responsável pela modalidade e trouxe vários professores para seminários. Após uma dessas aulas especiais, a equipe foi assumida por Rodrigo Poderoso, um dos líderes da Gracie Barra no Paraná. Em 2012, Carlos recebeu a faixa preta pelo líder da N1 Team Brasil, mestre Élson de Jesus Pinto, e atualmente é o responsável pela equipe em Ponta Grossa. “A equipe cresceu, temos vários faixas pretas e outros prestes a se formar. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas, aos poucos, estamos ganhando espaço”, afirma. Alguém duvida que vem mais uma geração de guerreiros por aí?

DE MESTRE PARA MESTRE

O cara dos grandes nomes

“A metodologia do mestre Carlos é simples, eficaz e sempre em evolução. Graças a ele, hoje eu sou quem sou: mestre em artes marciais, principalmente no Muay Thai. Eu trabalho e vivo disso graças aos ensinamentos do mestre Carlos, e até hoje eu sou discípulo dele. Ele é o cara que formou os grandes nomes em Ponta Grossa, é o nosso grão-mestre, e a cidade deve muito a ele”

Nei Taques, mestre de Muay Thai da equipe CT 33

Um segundo pai

“O Carlos é o meu mestre até hoje, e tudo o que conquistei e aprendi nas artes marciais foi com ele. É uma pessoa extremamente dedicada ao que faz. É um dos pioneiros das artes marciais em Ponta Grossa, e, além de preparar outros mestres, ele construiu grandes cidadãos e personalidades. Para mim, é como se ele fosse o meu segundo pai”

Alfredo Antonio de Oliveira Neto, mestre de Muay Thai da OnPrime Fight Team

DP SERVIÇO

Academia Capy Brazil Team

Rua Ricardo Wagner, 105, Olarias

Fone: 42 99141-2366

Por Eduardo Godoy | Fotos: Gabriel Ramos de Lima