A vacinação contra a Covid-19 está avançando cada vez mais no mundo todo . Independente da vacina aplicada, é comum que efeitos colaterais surjam após o recebimento da primeira ou da segunda dose. Mesmo assim, algumas mulheres estão estranhando algumas alterações relacionadas ao ciclo menstrual e também à região das mamas.
A jornalista Isadora Marques, 27, toma anticoncepcionais há cinco anos e tem o ciclo menstrual regulado. Uma semana depois de tomar a primeira dose da vacina, ela percebeu que um escape de sangue menstrual na forma de borrão três semanas antes da cartela terminar. O escape durou por quatro dias e, mesmo assim, a menstruação veio normalmente. “Fiquei apavorada, achando que fosse alguma coisa no meu útero e fui pesquisar na internet”, afirma.
Em sua pesquisa, descobriu que existiam casos de ciclo menstrual desregulado em pessoas que receberam doses da Pfizer, como ela, e da Moderna, mas sem comprovações ou casos no Brasil. “Cheguei a marcar uma consulta. A médica não achava que tinha alguma relação com a vacina. Só depois de duas semanas que encontrei outros relatos no Twitter de alterações como atraso, adiantamento ou fluxo intenso”, diz.
A analista de TI Érica Affarez, 36, sentiu uma intensificação do fluxo menstrual. A menstruação veio uma semana depois da vacina e, segundo ela, foi “absurdamente intensa”. “Há 20 anos minha menstruação não vinha assim. Meu fluxo é bem normal. Foi coisa de ter que trocar meu absorvente a cada uma hora”, diz. No mês seguinte, Érica conta que o fluxo ficou normal.
De acordo com a ginecologista e obstetra Fernanda Torras, esse tipo de reação é comum não apenas no caso da vacina contra a Covid-19, mas em qualquer tipo de vacinação. Isto porque o sistema imune gera um estresse orgânico que pode alterar o ciclo menstrual, o que causa picos ovulatórios. “Se a pessoa não ovulou quando deveria, provavelmente a menstruação também não virá na mesma data”, diz a médica.
Por esse motivo, é comum que a menstruação seja antecipada em torno de dez a quinze dias ou atrasos de até um mês; além de ciclos menstruais irregulares ou impacto no fluxo, que pode ser mais intenso ou mais fraco. “Isso vai depender do período de ovulação e do comportamento desse estímulo na alteração dos hormônios na ovulação em si”, explica.
A intensificação das cólicas uterinas também é algo comum por conta do estresse orgânico. Além das vacinas, esse mesmo processo ocorre em processos pós-operatórios pela alta demanda e estímulos recebidos pelo organismo.
As cólicas mais fortes também estão relacionadas ao fluxo intenso. “Quanto maior é o volume a ser liberado durante uma menstruação, maior é o índice de cólicas. Então se a paciente apresenta um ciclo aumentado, esse ciclo virá com mais cólicas por ter mais fluxo a ser eliminado”, explica.
Apesar de desconfortáveis, as alterações relacionadas a fluxos e ciclos menstruais são pontuais e transitórias e a menstruação deve voltar ao normal no mês seguinte.
O susto relacionado à menstruação não se resume apenas ao fluxo intenso ou à bagunça no ciclo menstrual. Juliana Ribeiro, 34, analista de TI, não menstruava há três anos, desde que colocou um Dispositivo Intrauterino (DIU) não hormonal, também chamado de DIU Mirena. A alteração aconteceu rapidamente. Ela foi vacinada com a CoronaVac às 13h30 e menstruou no mesmo dia, às 15h.
Além do sangramento, que durou cerca de três, ela sentiu a visão turva e queda de pressão. Juliana também sentiu efeitos colaterais considerados comuns, como dor de garganta, frio e enjoos. Todos os sintomas foram reportados ao Instituto Butantan, responsável pela fabricação da vacina.
Torras explica que o sangramento em mulheres com DIUs não hormonais após a vacinação tem sido uma queixa comum. A médica explica que isso acontece por conta de micro concentrações uterinas no endométrio (um tipo de tapete que reveste o útero). “Essas oscilações do sistema imune podem gerar descamação irregular dessa camada de endométrio de forma totalmente pontual”, diz.
Ela ressalta que o sangramento no caso de quem tem DIU não hormonal não acarretará em grandes perdas de sangue. “A gente observa apenas um desconforto no dia a dia, mas nada que vá gerar um problema de saúde grave, como anemia”, diz.
No caso de mulheres com DIU hormonal, como o DIU de cobre ou prata, a menstruação pode chegar adiantada e ser mais intensa. No entanto, a médica reforça que isso acontece puramente por conta das alterações hormonais, e não por conta apenas do dispositivo.
No Tik Tok, uma norueguesa de 17 anos viralizou nas redes sociais após dizer na rede social de vídeos que sentiu que seus seios cresceram após tomar a vacina da Pfizer . A farmacêutica Bruna Altieri, 26, disse que percebeu o aumento dos seios dois meses após a primeira dose.
“Percebi quando fui colocar meu top de ginástica e meus seios não cabiam. Aumentou em torno de um a dois números. Não é como se fosse um inchaço, mas um crescimento mesmo”, explica.
A analista de contratos Sharlene Pereira, 39, também percebeu o aumento das mamas um mês depois de tomar a primeira dose da Pfizer. “Achei que fosse algo relacionado à TPM porque senti um pouco de dor, mas depois do período menstrual percebi que o aumento permaneceu”, diz. Assim como Bruna, ela explica que o aumento se distribuiu por igual. “Notei as mamas com um aumento de volume e de firmeza também”, afirma.
De acordo com Torras, ainda não existe nenhum estudo que comprove a relação do aumento de seios com a vacinação, independentemente da fabricante. No entanto, há relação ao aumento dos linfonodos axilares, também chamados de gânglios linfáticos, que funcionam como filtros que contém células do sistema imunológico.
Desta maneira, há a percepção de que os seios aumentam. “Após a vacinação, existe um estímulo do sistema linfático bastante importante com o objetivo de fazer anticorpos. Com isso, há o aumento dos gânglios axilares, geralmente do lado do braço que recebeu a vacina, e do prolongamento entre mamas e axilas”, explica. Esse efeito tende a passar em quatro semanas e não compromete a região.
Torras acrescenta ainda que essa mesma reação pode acontecer também em homens e que é comum também em outras vacinas, como a contra influenza e tríplice bacteriana. Estima-se que essa reação aconteça em cerca de 10% das mulheres.
No entanto, esse crescimento dos linfonodos axilares pode causar alterações em ultrassonografias ou ressonâncias de mama feitas até um mês após a vacinação. Esses exames são muito usados para a identificação do câncer de mama.
Caso a alteração ocorra dentro do período de vacinação, é importante procurar um médico e informar a data de vacinação e em que braço a dose foi aplicada. Também deve-se evitar a realização de exames de rastreamento logo depois da vacinação. Torras recomenda que as mamografias sejam feitas 4 semanas após a imunização .
Torras afirma que essa reação também é comum e passageira. “São reações pertinentes ao estímulo do sistema imunológico e não trazem risco algum para saúde. Só podem realmente falsear os exames de rastreamento para o câncer de mama, por exemplo”, diz.