Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024

Dentista ponta-grossense Alexandre Aracema morre aos 105 anos

2020-08-17 às 10:19

Morreu na manhã desta segunda-feira (17) o dentista ponta-grossense Alexandre Aracema. Formado em Odontologia pela Universidade Federal do Paraná em 1942, trabalhou como cirurgião dentista e integrou o corpo docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) por 20 anos. Aracema também se destacou na vida pública, sendo vereador de Ponta Grossa por cerca de 20 anos.

O dentista tinha 105 anos e deixa mulher, quatro filhos, nove netos e onze bisnetos. O velório acontece na Capela Municipal São José e o sepultamento está marcado para 16h30 de hoje (17), no cemitério São José.

Em dezembro de 2018 a Revista D’Ponta fez uma matéria com o dentista, onde falava sobre as suas conquistas ao longo dos mais de 100 anos de vida. Na época, Aracema revelou seu segredo de longevidade: “O segredo é não beber, não fumar, não matar e não roubar”.

Leia a reportagem de Ana Luísa Vaghetti de Souza, com entrevista e edição de Eduardo Gusmão.

ALEXANDRE ARACEMA, 104 ANOS
“O segredo é não beber, não fumar, não matar e não roubar”

Alexandre Aracema, um exemplo de sabedoria, lucidez e experiência, completou 104 anos de vida, em 3 de dezembro último. Natural de Ponta Grossa, Aracema se tornou um dos maiores símbolos políticos e sociais do município. Aposentado e viúvo, desde 2011, foi casado com EmiliaVoigt durante 67 anos. Pai de quatro filhos, ele tem nove netos e onze bisnetos. Formado em Odontologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1942, trabalhou como cirurgião-dentista em consultório odontológico. Durante 29 anos, integrou o corpo docente do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Aracema também seguiu a vida pública, na qual atuou como vereador da cidade por 20 anos.

 VIDA FAMILIAR

“O maior tesouro que eu juntei nesses anos de vida foi a minha família. Foi um tesouro difícil de ser construído, mas que não há quem tire de mim”, afirma Aracema. Tudo começou porque Aracema frequentava a casa dos pais de Emília, onde ele conheceu a esposa e logo se encantou. Na época, ela ainda com 13, e ele já com 21 anos de idade. “Naquele tempo, não tinha essa coisa de fazer um ‘fogaréu’ e depois desmanchar com a pessoa”, relata. Os dois namoraram durante nove anos. Nesse período, Aracema trabalhava e estudava em Ponta Grossa. Apesar de ter ficado mais distante de Emília, quando precisou morar em Curitiba, os dois nunca se separaram.

ESTUDOS E HOBBIES

Cirurgião dentista, professor, esportista e ex-vereador. Tudo na vida de Alexandre Aracema começou um pouco mais tarde.  Ele ingressou no ginásio (ensino médio) com 17 anos, numa sala que era anexo do Colégio Sant’Ana. “Era uma escola de pobres, para aqueles que não tinham condições.  A gente podia ir descalço”, aponta. Terminou o estudo na antiga Faculdade de Farmácia e Odontologia de Ponta Grossa, no entanto, o diploma não foi reconhecido.  Foi então que Aracema precisou cursar Odontologia na UFPR (Universidade Federal do Paraná).

O professor Aracema conta que sempre foi muito grato ao grande amigo Egon Roskamp, que  incentivava sua trajetória na profissão. “Ele contribuiu para que eu e minha família nos transformássemos no que somos hoje”. Os dois eram sócios e trabalhavam no mesmo consultório odontológico. Qual o segredo para esse sucesso profissional? “Egon sempre me dizia que, para seguir essa vida, eu não deveria  beber, fumar, mentir e nem roubar,  mas como eu já tinha esse ritual, não foi difícil para mim seguir os conselhos do meu amigo”, lembra Aracema.

Com passagens pelo xadrez, tênis, equinocultura e turfe, Alexandre Aracema costumava se dedicar às atividades que lhe davam gosto. Comprometeu-se ainda com a criação de cavalos, após ter adquirido um imóvel rural no Cará-Cará. Viajava para São Paulo e Rio de Janeiro devido às competições e campeonatos de que participava. Sempre se concentrando nos esportes, Aracema defende que a prática esportiva conserva o ser humano, porque permite que ele desenvolva os diversos aparelhos do corpo.

De temperamento alegre e competitivo, ele ingressou na Associação Ponta-Grossense de Xadrez,  época em que participou de inúmeros torneios entre as décadas de 1940 e 1950. “Gostei demais de aprender xadrez, porque nesse esporte você precisa pensar muito antes de movimentar uma peça. E na minha vida sempre foi assim! Antes de fazer qualquer coisa, eu pensava muito no que podia e não podia fazer”, afirma.

Aracema também teve uma carreira traçada no mundo do tênis de campo (quadra). Embora não tenha sido um jogador profissional, ele sempre se dedicou à prática e treinos. “Acredito que o tênis tenha me dado uma saúde melhor. Eu tenho uma coisa natural, assim como todo mundo, que se chama desgaste da máquina humana, mas sempre tive muita disposição e vitalidade.”

 Membro ativo do Departamento de Tênis do Clube Ponta-Lagoa, por alguns anos, Alexandre Aracema chegou a receber uma homenagem dos tenistas ponta-lagoanos. Ele foi presenteado com uma placa que dizia: “No Dia dos Pais, a nossa homenagem ao Pai do Tênis. Lagoano alegre, esportista que usamos como exemplo”. Em 1998, o Departamento de Tênis criou o Circuito Ponta-Grossense de Tênis e institui o troféu Alexandre Aracema. A homenagem foi uma forma de perpetuar a imagem de Aracema como o pai e amigo do tênis.

VIDA PÚBLICA

Com uma vida pública muito ativa, Alexandre Aracema foi eleito vereador de Ponta Grossa por quatro legislaturas consecutivas. Em duas oportunidades, atuou também como presidente da Câmara Municipal. No começo de sua vida política, ele foi filiado à União Democrática Nacional (UDN), mas como não teve sucesso, migrou para o Partido da República (PR).

Sempre na busca de atender ao povo, Aracema conta que sente orgulho de ter sido um dia representante de sua cidade natal. Chegou a assumir o cargo de prefeito municipal durante dez dias, em virtude do licenciamento do titular. Um homem de respeito e muito querido pelos amigos, Aracema tinha muito apreço pelo poder público. “Eu costumava dizer que eu era o pior vereador do meu tempo, porque nunca ninguém me propôs qualquer coisa que pudesse me levar à corrupção. Hoje, eu trago ainda o pensamento  do quanto é difícil ser vereador, num mundo em que tudo é manipulado por dinheiro e por corrupção.”

Aracema já recebeu diversas homenagens devido à sua atuação profissional e política. Em outubro de 1996, ele foi presenteado pela Câmara Municipal de Ponta Grossa com uma placa com os seguintes dizeres: “Ao ex-vereador Alexandre Aracema, para aquele que sempre se constitui numa legenda honrada e combativa deste legislativo, a nossa homenagem no Dia Nacional do Vereador”.  Recebeu ainda o título de ‘Cidadão Benemérito’ em 2007. Também ganhou mensagens e troféus do ex-prefeito municipal Paulo Cunha Nascimento, da Associação dos Professores Aposentados da UEPG e da Academia Paranaense de Odontologia.

Em sua trajetória de vida centenária, ele faz questão de dizer que sua vida, até o presente momento, valeu muito a pena. “Às vezes, eu tenho dificuldade de andar. Penso que só estou dando trabalho para as pessoas. Mas, minha filha me disse que eu estou participando da vida deles. É isso que justifica eu estar aqui, ainda! É por esse carinho que estou vivendo a minha vida – e convivendo com aqueles que eu amo”

 Por fim, Alexandre Aracema deixa a seguinte mensagem para os jovens: “Acho que a vida é muito gostosa, mas a gente complica muito, nos envolvendo com coisas proibidas. Não é fácil convencer os jovens de que não devem optar pelas coisas que estão erradas. Eu gostaria de ser um exemplo. Ser o ideal para a vida deles. Por isso, reforço que o segredo é não beber, não fumar, não matar e não roubar.”