Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2024

‘Estômago artificial’ lançado pela UEPG deve reduzir o uso de animais em pesquisas

2020-03-07 às 15:42

“Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura”. Foi com essas palavras de Charles Chaplin no clássico “O Ditador” que o pesquisador Amauri do Nascimento, professor aposentado do Colégio Agrícola, encerrou a apresentação do Dispositivo Farmacêutico 1 (DF1), aparelho que simula o funcionamento do trato digestório e que tem como um de seus principais benefícios a redução do uso de cobaias vivas em pesquisas científicas. O evento aconteceu na segunda (02), na Sala dos Conselhos, Campus Uvaranas da UEPG.

“Meu sonho sempre foi diminuir a dor e o sofrimento; seja ele humano, seja ele animal”, conta o professor Amauri. O equipamento permite diminuir o uso de animais em pesquisas com fármacos (substâncias químicas que são os princípios ativos dos medicamentos), mas também pode ser adaptado para outros tipos de pesquisas que necessitam de um ambiente que simule o trato digestório. “É extremamente versátil, porque pode fazer um exame pontual, ou seja, específico de uma determinada área do sistema digestório, como o estômago, intestino ou boca, e  pode também fazer um exame sequencial, reavaliando ao passar do tempo, em até 72 horas, a ação de uma substância sobre esse sistema”, explica.

O projeto do estômago artificial não se restringe a um departamento ou área de conhecimento, mas une a universidade através da inovação, enfatiza o professor Miguel Sanches Neto, reitor da UEPG. “Este projeto é simbólico, por mostrar a postura da universidade, em conexão direta com o setor produtivo e com os pesquisadores, com o objetivo de resolver um problema da sociedade, que é diminuir o sacrifício de animais durante os experimentos”, assinala.

Como destaca o diretor da Agência de Inovação e Propriedade Intelectual (Agipi) da UEPG, professor Miguel Archanjo de Freitas Junior, uma das prioridades da universidade é entregar projetos para a sociedade. “Para nós, é um momento bastante significativo quando devolvemos algo concreto, que vai fazer a diferença na vida das pessoas e na sociedade”, comemora.

“Este é um sonho de mais de uma década, que o professor Amauri tinha desde o desenvolvimento de seu doutorado”, conta o professor Benjamin de Melo Carvalho, que coordena o projeto. O pesquisador destacou a importância de reconhecer o papel das pesquisas dentro da universidade, que, com as devidas parcerias, podem desenvolver soluções que impactam a vida de pessoas e a economia, além de gerar empregos.

Sobre o DF1

A demanda por este equipamento surgiu em 2005, quanto o professor Amauri desenvolvia uma pesquisa na área de fármacos. Para atender à necessidade de testes e substituir cobaias vivas, foi criado um dispositivo improvisado, que chegou a 92% de reprodutibilidade. “O improviso se mostrou eficaz, diante das necessidades. Foi uma descoberta paralela, além da pesquisa principal”, conta Nascimento. O DF1, apresentado nesta semana, que unifica protótipos desenvolvidos após esta primeira pesquisa, foi patenteado e registrado no INPI em 2015 e contou com a colaboração dos professores Benjamim de Melo Carvalho e Luís Antonio Pinheiro, do curso de Engenharia de Materiais.

Em outubro de 2018, a destinação de uma verba da Justiça Federal viabilizou a produção do equipamento. “Não existe invenção sem fugir da rotina. E para fugir da rotina, é preciso investimento”, aponta o reitor. Esse tipo de parceria, destaca Sanches, aporta dinheiro para os projetos da universidade, de uma forma que facilita o trabalho com a iniciativa privada e o setor produtivo, além de dinamizar a economia local.

Dentre os benefícios do uso do dispositivo, estão a redução do uso de cobaias in vivo; diminuição da burocracia, do tempo de pesquisa e dos custos para os experimentos; aumento das produções científicas e da visibilidade científica brasileira, além do fomento do uso de tecnologia cem por cento nacional. O produto também deve contribuir para um sistema sustentável e ecologicamente correto, reduzindo o sofrimento animal e a poluição com o descarte de carcaças e incentivando o desenvolvimento de novas tecnologias sustentáveis.

Fonte: Universidade Estadual De Ponta Grossa Imagens: Universidade Estadual de Ponta Grossa