Quinta-feira, 07 de Novembro de 2024

Mulher D’Ponta: Há 16 anos a delegada Cláudia Krüguer é o apoio das mulheres que buscam ajuda

2020-03-13 às 17:53

Neste Mês da Mulher, o portal D’Ponta News está produzindo uma série de reportagens que mostra a importância da mulher na sociedade, bem como as suas conquistas e os desafios enfrentados no dia a dia. Intitulada ‘Mulher D’Ponta’ e publicada toda sexta-feira do presente mês, a série também traz histórias de mulheres que lutaram e hoje servem de inspiração para outras mulheres.

A delegada Cláudia Krüger é uma delas. Ela comanda há 16 anos a Delegacia da Mulher de Ponta Grossa, especializada em atender crimes cometidos contra mulheres. É a delegada que está há mais tempo na mesma unidade policial em todo o Paraná. Combater o feminicídio e a violência doméstica é uma rotina para ela.

“A experiência profissional e o dia a dia nos fazem enxergar a vida de outra forma, porque você tem uma noção do que o ser humano é capaz de fazer, mas nem por isso podemos perder a nossa ternura, um olhar terno perante a vida, conseguir enxergar as coisas boas, as coisas simples, enxergar as amizades”, observa ela. “Você não pode endurecer com esse dia a dia difícil, com essas situações que são terríveis. Até porque muitas vítimas dependem desse olhar um pouco mais sensível diante das situações. Precisamos encontrar o equilíbrio entre a força e a ternura.”

ELAS PEDEM POR AJUDA

Entre o primeiro e o último dia de 2019, a Delegacia da Mulher solicitou 968 medidas protetivas para mulheres que realizaram denúncias e estavam em situação de risco. Já em 2020, 224 medidas protetivas foram solicitadas de janeiro a meados de março.

A delegada ressalta que isso significa que as mulheres estão começando a tomar a iniciativa de denunciar. “Esses números bastante consideráveis podem ser vistos de alguns ângulos. O primeiro é que as campanhas de conscientização resultam nessa vinda das vítimas [à Delegacia] para denunciar. Também mostram que ainda temos muito a galgar no caminho desse enfrentamento.Temos que melhorar a rede de apoio e conseguir mudanças comportamentais”, avalia.

QUESTÃO CULTURAL

Cláudia comenta ainda que a violência doméstica é um problema cultural. “A questão da violência familiar e doméstica está estreitamente relacionada com questões educacionais e culturais. Não são questões muito fáceis de serem combatidas ou derrubadas. Existe um trabalho constante e contundente nesse sentido”, explica.

Apesar disso, ela afirma que há uma evolução nesse aspecto. “Felizmente, não há como negar que estamos tendo conquistas a nível mundial. A mulher tem se destacado em muitas áreas, incluindo nesse combate. É um caminho a ser seguido, mas já temos passos muitos importantes”, pontua.

DENUNCIE

Uma das melhores ferramentas para resolver o problema da violência contra a mulher, segundo a delegada, ainda é a denúncia. “Ninguém é obrigado a viver em um relacionamento abusivo. Não há sentimento, amor, nada que justifique a pessoa ficar subjugada ao outro, a ser humilhada diariamente. Não há justificativa para isso. A denúncia é fundamental. Se a situação estiver ocorrendo, é muito importante o acionamento das autoridades, para que o agressor seja preso em flagrante, que é uma atuação instantânea do Estado. Se não for possível, é necessário o boletim de ocorrência. Uma situação de violência reflete no núcleo familiar. É preciso colocar um ponto final”, orienta.

A DIFICULDADE DE DENUNCIAR

Embora a denúncia seja imprescindível, muitas mulheres ainda têm receio de denunciar os seus parceiros. “A primeira questão é tomar essa iniciativa [de denunciar]. Após o registro da ocorrência, a vítima pode solicitar uma medida protetiva de urgência, que é uma cautelar, muito séria e importante, de muita validade, que a lei 11.340 trouxe nesse contexto de enfrentamento”, aponta Cláudia. Ela menciona também que, nos casos de violência doméstica, a palavra da vítima tem um valor “muito grande”. “Nós vamos ao núcleo familiar, ouvimos outras pessoas, mas a palavra da vítima tem muito valor nestas situações, afinal, são crimes cometidos entre quatro paredes.”

AGIR COM RAPIDEZ

Tão importante quanto a denúncia, é a rapidez com que se denuncia. Claudia alerta as mulheres para agirem rápido em casos de agressão, para que não se tornem vítimas de feminicídio.

ATENÇÃO PARA OS PEQUENOS SINAIS

O sentimento que muitas mulheres alimentam por seus companheiros as impede de enxergar os primeiros sinais de uma conduta abusiva, observa a delegada. “Eu acredito que o principal obstáculo para a vítima identificar os sinais é porque, normalmente, ela está nutrindo pelo companheiro sentimentos que muitas vezes colocam quase uma venda nos olhos da vítima, ainda que as outras pessoas falem ‘Olha, não está legal, ele não pode dominar você dessa maneira’. É importante ouvir a família e os amigos”, ressalta.

Cláudia lembra ainda que a agressão não se restringe à violência física que deixa marcas. “A agressão não é somente física. Pode ser por ameaças, palavras ofensivas, um contato físico que não gera uma lesão corporal, por exemplo, um empurrão, um tapa, uma agressão que não deixa marcas, mas não deixa de ser uma agressão”, completa.

UMA MULHER QUE DEFENDE O BEM-ESTAR DE OUTRAS MULHERES

Contando com 16 anos na função, Cláudia é responsável por ajudar a prender agressores e criminosos, e, dessa forma, trazer uma vida mais digna para muitas mulheres. “Quero aproveitar a oportunidade e dizer que estamos à disposição. Em casos de agressão, física ou psicológica, acionem as autoridades. Ninguém é obrigado a viver um relacionamento abusivo”, finaliza.

Texto e imagens de Igor Rosa