Domingo, 05 de Maio de 2024

Enfoque D’P: Acidentes de Trabalho – Segurança em primeiro lugar

2023-06-04 às 12:45
Foto: Reprodução

Ponta Grossa registra aumento de 148% nos acidentes de trabalho entre 2021 e 2022. Membros da Associação dos Engenheiros e Arquitetos da cidade trazem estatísticas alarmantes sobre o tema e apontam caminhos para garantir que os profissionais da construção civil trabalhem com mais segurança

por Edilson Kernicki

A cada 51 segundos, ocorre um acidente de trabalho no Brasil, segundo estatísticas dos Comunicados de Acidente de Trabalho (CAT). Dados informados nesse documento embasam o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) na concessão de benefícios, como aposentadorias e licenças. O maior acidente de trabalho já registrado no país é o rompimento da barragem de Brumadinho (MG), em 2019, que matou 270 pessoas.

Com iniciativas de conscientização ligadas à segurança e à saúde do trabalhador brasileiro, foi criado o movimento Abril Verde. O mês foi escolhido por englobar duas datas relacionadas ao tema: o Dia Mundial da Saúde (7) e o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho (28). O verde simbolizado no laço representa as questões de saúde e segurança do trabalho.

Em Ponta Grossa

Membros da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Ponta Grossa (AEAPG), o engenheiro civil e especialista em segurança do trabalho José Aparecido Leal e o engenheiro eletricista Rafael Soares, pós-graduando em Engenharia de Segurança do Trabalho, levantaram estatísticas de acidentes de trabalho em Ponta Grossa entre 2019 e 2022.

Dados obtidos junto ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), do setor de epidemiologia do município, indicam oscilação no registro de acidentes: de 44, em 2019, foi para 98 no ano seguinte, caindo para 47 em 2021 e subindo novamente para 117 em 2022.

Esse crescimento de 148% nos dois últimos anos é reflexo do aumento nos investimentos na construção civil e, consequentemente, da demanda de mão de obra, segundo Leal. Além disso, decretos durante a pandemia dispensaram as empresas, temporariamente, de organizar treinamentos, atividades preventivas e o cumprimento de Normas Regulamentadoras (NRs), enquanto se reduziu o trabalho em canteiros de obras.

Empregados registrados e autônomos engrossaram estatísticas de acidentes entre 2019 e 2022. No ano passado, foram 51 registrados e 46 autônomos, contra sete entre os sem registro, um empregador e um em outra categoria. Apenas em 2021 houve mais acidentes entre não registrados (19) do que autônomos (1). Conforme Soares, dados do CAT envolvem, de fato, trabalhadores com carteira assinada, enquanto profissionais autônomos ou informais da construção civil podem gerar subnotificação. Preencher o CAT demanda acesso a laudos e programas de prevenção da empresa. Advogados consultam essas informações para calcular a exposição à periculosidade ou insalubridade em pedidos de aposentadoria, por exemplo.

Os piores dias e horários

De acordo com Leal, durante 2022, em Ponta Grossa, 109 acidentes envolveram homens (93,16%) e oito foram com mulheres (6,83%). As ocorrências predominam às quartas-feiras (29,25%), entre as 10h e as 12h (21%). Imprudência, despreparo, falta de condições adequadas: são diversos os fatores que podem explicar a prevalência, afirma o especialista. Por isso, ele recomenda às empresas que intensifiquem os Diálogos Diários de Segurança (DDS) e que gestores, supervisores e técnicos de segurança visitem os locais de trabalho nesse horário, com incentivo à adoção da metodologia OPA (Olhar, Planejar e Agir Corretamente).

Segundo o engenheiro civil, a atenção e a percepção de perigo estão mais aguçadas na segunda-feira e já são mais residuais na terça. Na quarta, porém, já há um desgaste e desmotivação, e o trabalhador pode operar no “automático”. Já na quinta e na sexta, a proximidade do final de semana elevam a motivação e o próprio senso de preservação. O último trimestre do ano (outubro, novembro e dezembro), aliás, concentra 70% do registro de acidentes: 82, ao todo. Os meses de abril, junho, julho e agosto foram os com menos ocorrências: dois em cada.

Membros mais atingidos

Dedos, mãos e braços são as partes do corpo dos trabalhadores mais atingidas pelos acidentes de trabalho em Ponta Grossa, justamente por serem as partes mais próximas e em maior contato com as ferramentas de trabalho ou máquinas. Quase 59% dos acidentes atingem mãos ou braços; seguidos de pernas (20,51%); cabeça (10,25%); pés (6%); e olhos (4,27%).

Em relação às sequelas, 85,47% (ou 100) dos acidentados tiveram incapacidade temporária, enquanto 4,27% (5) chegaram a óbito. O número de óbitos também variou: foram quatro em 2019, caiu pela metade em 2020, chegou a sete em 2021 e baixou para cinco no ano passado. A proporção de incapacidade temporária se explica porque a maior parte dos acidentes gera fratura de membros superiores.

Instrução contínua

Soares analisa que, mesmo que grande parte das empresas atribua a devida importância em fornecer equipamentos de proteção individual (EPIs), nem sempre há orientação e conscientização suficientes sobre o seu uso e instruções, palestras e reuniões para alertar os funcionários sobre a necessidade de combater os acidentes. A Norma Regulamentadora 5 estipula parâmetros e requisitos para formar a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), responsável também por organizar as Semanas Internas de Prevenção de Acidentes (SIPAT), em que se intensifica a conscientização dos trabalhadores sobre o tema.

Para Leal, o treinamento para a segurança não deve se restringir à integração do funcionário à empresa, mas ocorrer continuamente, com investimento em cultura prevencionista. O engenheiro civil defende que tanto a empresa deve operar nos conformes para evitar acidentes de trabalho, ao fornecer EPIs e plano de prevenção, quanto o trabalhador deve seguir essas orientações à risca. Ele aponta que muitos dos casos envolvem funcionários novos, sem domínio de conhecimento para a execução das tarefas atribuídas e sem capacitação adequada para a prevenção e que, por isso, deveriam ser acompanhados por supervisores durante o treinamento.

De um lado, o engenheiro eletricista lamenta que muitas empresas iniciantes priorizem a operação, produção e o lucro, em detrimento da segurança. De outro, Leal opina que pequenas empresas possuem dificuldade em atender às normas de segurança do trabalho, ao passo que grandes empresas e multinacionais possuem uma visão mais aguçada nesse sentido, de olho na legislação, nas exportações e nas exigências para obter certificações de qualidade como ISO 45000 – de segurança no trabalho – e ISO 14000 – da questão ambiental.

Nesse aspecto, Leal avalia que a falta de atenção com a segurança do trabalho pode prejudicar uma empresa tanto do ponto de vista financeiro quanto legal. Um acidente pode gerar queda na produção e indenizações, e a empresa pode sofrer sanções e até interdição.

DADOS SOBRE ACIDENTES DE TRABALHO EM PONTA GROSSA

ACIDENTES DE TRABALHO COM CAT
2019 – 44 (4 óbitos)
2020 – 98 (2 óbitos)
2021 – 47 (7 óbitos)
2022 – 117 (5 óbitos)

SITUAÇÃO DOS ACIDENTADOS NO MERCADO DE TRABALHO (2022)
Registrado – 51
Não registrado – 7
Autônomo – 46
Empregador – 1
Outros – 1

TIPOS DE SEQUELAS DOS ACIDENTADOS (2022)
Incapacidade Temporária – 100
Incapacidade parcial permanente – 3
Incapacidade total permanente – 0
Óbito pelo acidente – 5
Cura – 6

PARTE DO CORPO MAIS ATINGIDA
Membro superior – 35,89%
Membro inferior – 20,51%
Mãos – 23,07%
Cabeça – 10,25%
Pés – 6%
Olhos – 4,27%

OCORRÊNCIAS NOS DIAS DA SEMANA
Segunda – 17,94%
Terça – 10,25%
Quarta – 29,25%
Quinta – 18,8%
Sexta – 10,25%
Sábado – 7,69%
Domingo – 5,98%

HORÁRIOS DOS ACIDENTES
00-02 – 3%
02-04 – 1%
04-06 – 2%
06-08 – 3%
08-10 – 13%
10-12 – 21%
12-14 – 14%
14-16 – 10%
16-18 – 13%
18-20 – 7%
20-22 – 9%
22-24 – 8%

VÍTIMAS DE ACIDENTES POR SEXO
Homem – 93,16%
Mulher – 6,83%