Sábado, 04 de Maio de 2024

Mente & Corpo D’P: Hospital Pequeno Príncipe – Compromisso com a saúde infantil

2023-07-08 às 10:26
Foto: Divulgação

Instituição de suma importância para as crianças e adolescentes de Ponta Grossa e região, o Hospital Pequeno Príncipe enfrenta o duro desafio de captar recursos para manter o atendimento filantrópico

por Edilson Kernick

Listado entre os 150 melhores hospitais pediátricos do mundo pela revista norte-americana Newsweek em 2021, o maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil, o Pequeno Príncipe (HPP), situado em Curitiba, é referência em transplantes em crianças no Paraná. A qualidade, a expertise e o compromisso social da entidade, fundada em 2019, leva muitos pacientes de Ponta Grossa e região a buscarem atendimento em suas instalações.

Entre os 200.776 atendimentos ambulatoriais realizados em 2021, os pacientes pediátricos de Ponta Grossa e região foram 5.364 – 2,67% do total. Nas cirurgias, o percentual sobe para 4,63% – dos 14.790 procedimentos no total, 685 foram de pacientes princesinos.

Os dados referentes ao ano de 2021, contudo, são atípicos, por representarem uma retomada nos atendimentos após a adoção de novos protocolos em função da pandemia de COVID-19, que gerou uma redução. O atendimento a crianças dos Campos Gerais caiu 44,22% de 2019 para 2020, o primeiro ano de pandemia. Foram 3.578 a menos que no ano anterior, que registrou 8.093. A retomada em 2021 elevou em 15,8% os atendimentos.

Quando se trata de cirurgias, a pandemia levou a uma queda de 51%: foram 931 procedimentos em 2019, contra 475 no ano seguinte, no que se refere a pacientes de Ponta Grossa. A realização de cirurgias voltou a crescer em 2021, com 210 a mais que em 2020: aumento de 44,21% (685).

Dados gerais

Segundo os dados gerais de 2022, foram realizados, no HPP, 249.302 atendimentos ambulatoriais; 18.094 cirurgias; 20.044 internamentos; 1.061.086 exames e 275 transplantes. A estrutura hospitalar dispõe de 361 leitos, sendo 68 em UTIs e dez para transplantes de medula óssea.

Transplantes pediátricos

Dos 235 transplantes pediátricos de fígado realizados no Brasil em 2021, 23 foram realizados no Paraná e todos eles no HPP. Dos cardíacos, dois foram feitos em 2021 pelo HPP, o que corresponde à totalidade desses procedimentos no estado e a 5% dos feitos no Brasil naquele ano (41). Entre os 619 de medula, 118 foram realizados no Paraná e, destes, 73 foram efetuados no HPP, ou 12% dos transplantes nacionais desse tipo e 62% dos feitos no Paraná. Além disso, dos 25 transplantes de rim feitos naquele ano no estado, 18 ocorreram no HPP, o que equivale a 72% das cirurgias desse tipo no estado e a 6% do total feito no país (307). No ano passado, dos 275 transplantes efetuados no HPP, 37 foram de órgãos (coração, rim e fígado), 47 de válvula cardíaca, 56 de medula óssea e 135 de tecido ósseo.

Há dez anos, o HPP realizava o primeiro transplante alogênico de medula óssea, procedimento de alta complexidade em que as células sadias da medula são retiradas de um doador e transferidas para o paciente por meio de transfusão de sangue. Dois anos antes, a entidade já realizava o autólogo – quando a medula vem do próprio paciente. Em 2017, o Ministério da Saúde habilitou a instituição a realizar transplante de medula óssea não aparentado. O maior serviço de oncologia do estado destinado exclusivamente a crianças e adolescentes aplicou 2.637 sessões de quimioterapia em 2021.

Captação de recursos: um desafio

Para a Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro, mantenedora do hospital, a captação de recursos para manter o atendimento filantrópico constitui um desafio constante. Segundo a Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná (Femipa), enquanto 75% da população brasileira utiliza o SUS, somente 25% do orçamento em Saúde vai para o sistema. Hospitais filantrópicos respondem pela metade dos atendimentos e por 70% da alta complexidade no SUS, cuja tabela sofre com a defasagem desde a implantação do Plano Real, em 1994. O ajuste da tabela desde então foi de 93,7%. O ICPA do mesmo período corresponde a 617% (ou 6,5 vezes mais).

De cada R$ 100 investidos pelos hospitais filantrópicos, o SUS repassa R$ 60. Mesmo assim, o custo dos serviços de entidades filantrópicas custa até oito vezes menos que nos hospitais públicos federais. No entanto, na última década, foram fechados 15.944 leitos pediátricos no Brasil. Destes, 13,8 mil leitos SUS, o que equivale a 43 hospitais Pequeno Príncipe.

A cada ano, o custo dos dez medicamentos de maior demanda no HPP não cobertos integralmente pelo SUS supera a marca de R$ 2,5 milhões. A lista inclui remédios para pacientes da oncologia pediátrica e os que aguardam transplante de medula.

O deficit – gerado pelo fato de o SUS repassar um valor muito aquém do custo dos serviços – cresceu em cerca de 70% em relação à média histórica, que costumava ser de R$ 31 milhões na assistência e passou a R$ 52 milhões, em 2021. Nesse sentido, a captação de recursos possui impacto decisivo nos investimentos em obras e equipamentos. Dos mais de R$ 4,1 milhões investidos em obras em 2021, 68% correspondem a recursos captados (quase R$ 2,78 milhões) e 32% de recursos internos (mais de R$ 1,3 milhão). Dos mais de R$ 9,7 milhões aplicados em equipamentos, 69% são de recursos captados (quase R$ 6,7 milhões) e 31% de recursos internos (pouco mais de R$ 3 milhões). Para itens de consumo, a proporção é de 59% de recursos captados (R$ 5,2 milhões) e 41% internos (R$ 3,6 milhões).

Quanto a recursos humanos e material médico, a lógica se inverte. Para o RH, 92% se originam de recurso interno (mais de R$ 133 milhões) e 8% vêm de captação (quase R$ 11 milhões). Para materiais médicos, o investimento de recursos internos é de 83% (R$ 24,6 milhões) e 17% de captação (R$ 4,9 milhões).

Expectativa

Apesar da arrecadação abaixo do esperado, o hospital tem a expectativa, para os próximos anos, de atingir a sustentabilidade do atendimento humanizado, ensino, pesquisa e inovação (R$ 750 milhões). Outro objetivo é concluir a implantação do HPP Norte, no bairro Bacacheri (Curitiba), um campus integrado em saúde, em todas as três fases. A primeira delas começou em 2019, no centenário da instituição. O Pequeno Príncipe quer, ainda, ampliar o programa de telemedicina SUS para mais estados; implantar o Centro de Terapia Celular e adquirir o Proton Beam – uma nova tecnologia para o tratamento do câncer.

Tripé

Além do hospital, o Complexo Pequeno Príncipe é também formado pela Faculdade Pequeno Príncipe (FPP), criada em 2003, e pelo Instituto de Pesquisa Pelé/Pequeno Príncipe, inaugurado em 2006. Juntos, eles consolidam o tripé “assistência – ensino – pesquisa” almejado pela mantenedora. O instituto tem como missão ampliar o percentual da cura de doenças complexas de crianças e adolescentes.

Já a FPP consolida a vocação do Pequeno Príncipe, que desde os anos 1930 tem sido hospital de ensino e formado especialistas de diferentes áreas desde os anos 1970. Mais de 2 mil pediatras, anestesistas, ortopedistas, cardiologistas, cancerologistas e cirurgiões pediátricos de todo o Brasil complementaram sua formação e especialização em estágios e residências. Hoje, a faculdade oferece cinco graduações – Enfermagem, Biomedicina, Farmácia, Psicologia e Medicina; dois programas de pós-graduação stricto sensu e nove lato sensu (especialização) e dois programas de residência, com mais de 1,4 mil alunos e mais de 400 bolsas oferecidas.

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #295