há 10 horas
Amanda Martins

Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 37,1% das exportações brasileiras para os Estados Unidos, cerca de US$ 15,7 bilhões, estão atualmente livres de qualquer sobretaxa adicional. Pela primeira vez desde agosto, essa fatia supera o volume submetido à tarifa combinada de 50%, que ainda incide sobre 32,7% das vendas ao mercado americano.
Segundo informações do portal Metrópoles, a mudança ocorre após Washington ampliar a lista de produtos brasileiros isentos da tarifa extraordinária de 40%, criada especificamente para o Brasil durante disputas comerciais recentes. No total, 238 itens foram liberados. Entre eles estão produtos de forte presença na cesta de consumo dos americanos, como carne bovina, café e cacau, movimento interpretado pela indústria como sinal de distensão.
Maioria das exportações ainda sofre algum tipo de tarifa
Apesar do avanço, a CNI destaca que 62,9% das exportações brasileiras aos EUA continuam sujeitas a sobretaxas horizontais ou setoriais, inclusive aquelas sobre aço, alumínio e cobre, aplicadas pela Seção 232.
Entre os produtos ainda afetados, 7% enfrentam tarifa recíproca de 10%, enquanto 3,8% permanecem sujeitos à tarifa adicional de 40%. Já a tarifa combinada de 50% segue sendo a mais pesada, atingindo US$ 13,8 bilhões das exportações brasileiras. Desse total, cerca de US$ 5 bilhões, o equivalente a 11,9% das vendas ao mercado americano, são impactados exclusivamente pela alíquota de 50% da Seção 232.
Há ainda uma exceção condicionada: itens destinados à aviação civil podem ser isentos da tarifa de 40%, o que representa 7,5% da pauta exportadora, cerca de US$ 3,2 bilhões.
Repercussão na indústria
Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, o recuo parcial das sobretaxas fortalece a competitividade dos produtos brasileiros e abre espaço para negociações mais amplas com os Estados Unidos. Alban avalia a decisão como “um sinal muito positivo”, indicando disposição de Washington para avançar em temas de interesse da indústria.
Ele também aponta que setores como máquinas e equipamentos, móveis e calçados, tradicionais exportadores para o mercado americano, seguem fora da lista de exceções, o que deve ser prioridade nas próximas rodadas de diálogo. “Temos espaço para ampliar a remoção de barreiras para outros produtos industriais. Esse é nosso foco agora”, afirmou.
Cenário mudou desde agosto
O estudo lembra que, antes da flexibilização mais recente, o peso das tarifas era ainda maior: em agosto, 77,8% das exportações brasileiras estavam sujeitas a algum tipo de sobretaxa, e a tarifa de 40% incidia sobre quase metade da pauta, frequentemente combinada com a tarifa básica de 10%. Apenas 22% das vendas eram livres de cobranças adicionais, majoritariamente petróleo, combustíveis, biocombustíveis e alguns produtos minerais e metalúrgicos.
A reversão atual não elimina os impactos, mas reduz uma pressão significativa sobre o setor exportador. Para a CNI, além da dimensão econômica, o gesto de Trump carrega uma sinalização diplomática de reaproximação, num momento em que os EUA buscam reorganizar alianças comerciais e diminuir tensões com parceiros estratégicos.
Desafios persistem
Apesar dos avanços, o quadro ainda impõe desafios. As tarifas mais pesadas continuam concentradas em setores industriais importantes, especialmente o de aço e alumínio, que permanecem sob a alíquota de 50% da Seção 232.
No Palácio do Planalto, a flexibilização parcial é vista como oportunidade para retomar negociações, ampliar a lista de exceções e, gradualmente, reduzir o peso tarifário sobre produtos de maior valor agregado.