Segunda-feira, 09 de Dezembro de 2024

Coluna Direito no Palco: ‘A nova era do KISS e a imortalidade digital’, por Gustavo Fortunato

2023-12-05 às 14:54
Foto: Reprodução/Industrial Light & Magic/Disney/Pophouse Entertainment/KISS

No último sábado (02/12), a banda KISS, após 50 anos de estrada, realizou o seu último show no Madison Square Garden, em Nova York. O megaevento tomou conta da cidade com diversas ativações e ações de marketing que transformaram a cidade de Nova York, onde tudo começou, na capital do KISS.

Apesar de muitos duvidarem que seria, de fato, o fim da banda, a idade dos membros fundadores Gene Simmons e Paul Stanley evidenciava que a vida na estrada não era mais algo tão simples, tendo inclusive um dos shows recentes sido cancelado por conta da saúde do vocalista.

Inicialmente, muitos, inclusive eu, acreditavam que a banda provavelmente iria ser fragmentada, com novos artistas sendo chamados para usar as icônicas maquiagens e seguirem com o legado. Porém, o KISS sempre foi um grupo que buscou romper barreiras e inovar, e sua aposentadoria não foi diferente.

Para um Madison Square Garden lotado, após os últimos acordes de “Rock n Roll All Nite”, o KISS apresentou para o mundo a sua nova era. Avatares digitais gigantes tomaram o palco e apresentaram a passagem da banda para a imortalidade. Paul, Gene, Thommy e Eric deram adeus aos palcos e às apresentações, porém sua imagem permanecerá em apresentações completamente digitais, ao estilo do projeto de sucesso realizado pelo ABBA em 2022, o ABBA Voyage.

O uso da tecnologia para recriar artistas tem ganhado cada vez mais destaque no cenário do entretenimento, inclusive no Brasil, quando da discussão sobre a campanha da Volkswagen que recriou digitalmente a cantora Elis Regina. A polêmica sobre esses projetos costuma ser sobre a validade desse tipo de recriação. No caso da Elis, discutiu-se se a cantora concordaria com a recriação; já no caso do KISS, não há dúvida da concordância dos artistas com o projeto.

A polêmica gira, portanto, em torno da aceitação do público em ver um show de avatares digitais, os quais atualmente ainda são vistos com maus olhos, apesar do sucesso de turnês holográficas como as de Frank Zappa, Roy Orbison, Dio e o já mencionado ABBA, sendo que este tem feito um enorme sucesso, fazendo com que a apresentação de 1 ano fosse estendida para 5 anos.

A meu ver, o que muitos fãs deixam de fora na hora de criticar esse evento é que esses shows não estão presos às leis da física. Assim como o ABBA, acredito que o que o KISS, em conjunto com a gigante dos efeitos visuais ILM, planeja certamente será algo como nunca visto no sentido de imersão e entretenimento.

Se a nova era do KISS será um sucesso, só o tempo vai dizer; porém, é inquestionável que a banda encontrou uma solução para lidar com o envelhecimento de seus membros, ao mesmo tempo em que garantiu uma fonte de receita que pode garantir não só a velhice dos músicos como o sustento de seus herdeiros por muitos anos. Com isso, o KISS entendeu que a banda é maior que seus membros e que o show deve continuar, mesmo que virtualmente.

Coluna Direito no Palco

por Gustavo Fortunato

Advogado do Entretenimento, sócio fundador da FBC Consultoria Jurídica. Professor de pós-graduação e cursos livres sobre Propriedade Intelectual. Autor de livros e artigos sobre Direito Autoral. Mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação pelo PROFNIT/UFPR. Pós-graduado em Propriedade Intelectual e Comércio Eletrônico pela Universidade Positivo e em Advocacia Contratual e Responsabilidade Civil pela EBRADI. Certificado nos cursos CopyrightX da Harvard Law School e U.S. Intellectual Property Law pela Stanford Law School. Pesquisador Sênior do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e Industriais da UFPR (GEDAI/UFPR). Apaixonado por música e cinema.