há 2 horas
Heryvelton Martins

Ponta Grossa termina 2025 com indicadores fortes de crescimento, mas também com conflitos políticos expostos, serviços pressionados e uma sensação clara de que o ritmo de obras e números oficiais não acompanha, na mesma proporção, o que a população sente no dia a dia. O ano deixa uma cidade em disputa: de um lado, o discurso de potência regional; de outro, cobranças por transparência, participação e prioridade real para transporte, saúde, bairros e áreas rurais.
Em 2025, a relação entre a prefeita Elizabeth Schmidt e parte da base histórica do grupo Rangel/Alex implodiu em público, com vídeos e manifestações duras sobre a falta de investimentos do Estado em Ponta Grossa. A prefeita chegou a falar em “trocar representantes políticos” da cidade após denunciar que Ponta Grossa receberia muito menos recursos que Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel e até Guarapuava no plano de investimentos de 2026.
O embate se refletiu também na Câmara Municipal, que publicou nota criticando a disparidade nos investimentos estaduais e elevando o tom contra o governo Ratinho Junior, ao mesmo tempo em que vereadores enfrentam pressões internas em CPIs e nas votações mais sensíveis. Além disso, denúncias de violência política de gênero envolvendo a secretária Camila Sanches e o vereador Dr. Erick mobilizaram entidades e expuseram o ambiente de tensão e ataques pessoais na política local.
Apesar do discurso de “cidade potência”, a própria Prefeitura denunciou que Ponta Grossa está na “rabeira” do plano estadual de investimentos para 2026, com valores muito abaixo de cidades menores, especialmente em áreas como saúde e infraestrutura. No vídeo em que cobra o Governo do Estado, Elizabeth cita o Hospital Bom Jesus “quebrando” e o Hospital Amadeu Puppi sem receber “um centavo” para iniciar obras, o que escancara gargalos na rede de atendimento.
Na pavimentação, a prefeita admitiu que dos R$ 160 milhões prometidos para asfaltar 100% da cidade, apenas R$ 100 milhões foram liberados, deixando R$ 60 milhões travados justamente para vilas e bairros mais pobres. A reclamação é simbólica: o ano termina com um grande volume de obras, mas com a sensação de atraso histórico justamente nas regiões periféricas e em serviços básicos, como saúde de média complexidade.
O transporte coletivo segue como um dos principais focos de insatisfação popular em Ponta Grossa, com críticas à tarifa de R$ 5,00, qualidade dos ônibus e modelo de concessão que concentra o serviço em uma única empresa há décadas. Relatos de passageiros apontam veículos que quebram no trajeto, longas esperas nos terminais e preocupação com a proposta de ampliar a vida útil da frota para até 14 anos, o que pode agravar problemas mecânicos e de segurança.
Além do transporte urbano, mães de alunos denunciaram condições precárias no transporte oferecido a estudantes da APAE, com problemas em cintos de segurança e falta de limpeza nos veículos, o que expõe fragilidades no atendimento a pessoas com deficiência. Em paralelo, paralisações e tensões entre trabalhadores do sistema e Prefeitura continuam a marcar o debate sobre quem paga a conta do serviço: usuários, poder público ou empresa.
Outra chaga que 2025 escancarou é a precariedade da telefonia móvel e da internet, especialmente na zona rural de Ponta Grossa, onde produtores relatam áreas inteiras sem sinal e necessidade de “procurar ponto” para conseguir se comunicar. Dados do Procon mostram que, entre quase 24 mil atendimentos no ano, 1.729 reclamações foram contra empresas de telefonia, com destaque para cobranças indevidas, serviços não contratados e enorme dificuldade para cancelar planos.
O órgão reconhece que não realiza estudos próprios sobre cobertura de sinal no município, o que revela um vazio de políticas públicas locais para pressionar operadoras e garantir o acesso a comunicação como direito básico, especialmente para quem vive e produz no campo. A discussão sobre conectividade entra, assim, no mesmo pacote de temas em que Ponta Grossa cresce nos indicadores macroeconômicos, mas mantém bolsões de exclusão tecnológica e de serviços.
Ao longo de 2025, episódios de denúncia e mobilização marcaram o debate público, como a manifestação de estudantes de uma escola cívico-militar após um caso de abuso, o que levantou questionamentos sobre segurança, acolhimento e a resposta das autoridades. Entidades e movimentos também levantaram o alerta para a necessidade de combater a violência política de gênero e garantir que mulheres em cargos públicos não sejam alvo de intimidação ou desqualificação.
Ao mesmo tempo, denúncias levadas ao Ministério Público contra a Prefeitura por supostos indícios de irregularidades, bem como embates em CPIs como a do lixo, mostram que 2025 tensionou o sistema de controle e fiscalização na cidade. O ano termina, portanto, com Ponta Grossa exibindo números recordes na economia, mas também uma lista robusta de problemas cobrando resposta: transporte caro e falho, falta de investimentos estruturais em saúde e bairros, brigas abertas entre lideranças e uma população cada vez mais disposta a questionar quem se beneficia desse modelo de desenvolvimento.