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Revista D'Ponta

Crônica D'P: Gênesis, por Kleber Bordinhão

há 2 anos

Redação

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Crônica D'P: Gênesis, por Kleber Bordinhão
Foto: Reprodução
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— Ali ó, Jairo, perto daquela touceira! — Calma, já disse que precisa ser em lugar mais alto. Não se começa uma cidade pela parte mais baixa da região. — Olha, por mim a gente dava um perdido e voava para o litoral. Já imaginou viver pertinho do mar? — Deixa disso, Edite. Vamos ajudar o pessoal das fazendas, precisamos de um lugar alto e bonito. Vai que eles colocam a gente na bandeira, assim, como homenagem! — Mas que mania de grandeza! Você sabe que já somos o símbolo da paz né, quer honra maior do que essa? — Tá bom. O que você acha daquele monte onde está a figueira bonita ali? — Tanto faz. Olha, Jairo, eu ando tendo uns maus presságios sobre isso tudo, desde que essa ideia surgiu, venho tendo uns pesadelos esquisitos. — E pomba tem pesadelo? Eu nunca tive. — Pois pomba tem pesadelo, sim. Lembra daquela vez que sonhei que os pintinhos da Dodô tinham desaparecido? Não deu outra! — Edite, já falamos sobre isso. Você sabe, eu sei, a Dodô sabe, todo mundo sabe para que se cria frangos e qual é o fim deles. — É claro que eu sei, mas no meu pesadelo eles estavam rodando em espetos numa caixa brilhante, Jairo. Foi horrível, não gosto nem de lembrar. — Não gosta, mas lembra sempre que pode. — Olha, já faz uns dias que tô sonhando com umas coisas esquisitas. — Que coisas, Edite? — Tudo muito estranho. Assim, do nada, me vêm umas cenas… Essa noite sonhei que estava presa num banheiro, todo feito de vidro azul transparente. — E o que tem isso a ver com o pedido que fizeram pra gente? — Ora, desde que vieram com essa história de escolhermos o tal do marco zero da nova cidade, eu já tive pesadelo com árvore que dobra esquina, com cocô humano em forma de araucária e que você e eu girávamos em torno do núcleo de um átomo! — E o que é um átomo? — Aí que tá, eu não sei, Jairo, EU NÃO SEI! — Calma, minha querida, não precisa chorar. Isso é quebrante, mau-olhado, coisa dessa galinhada invejosa, só porque não conseguem voar, não aguentam ver outras aves subirem na vida. Vem aqui comigo dar uma olhada nessa figueira, olha só que coisa linda. — É linda mesmo, mas vão derrubar. — Derrubar por quê, Edite? — Ué, Nhô Zarto não prometeu erguer uma capela no lugar que a gente pousasse? — E precisa cortar a árvore? Podem fazer do lado. Você sempre pensando o pior. E outra, se derrubarem, é em nome do progresso. Tenho certeza que a capela vai ter o nome de uma linda santa e vai durar séculos aqui! — Ai, e tem isso ainda, o nome. — Da santa? — Da cidade, Jairo. Eu também sonhei com isso, vai se chamar Ponta Grossa. — Eu acho tranquilo, melhor que a ideia maluca da tua tia.“Rolândia.” Vê se isso é nome de cidade. — Mais respeito com a tia Rolinha, ela é uma ave de idade. Olha, Jairo, já deu né? A cidade vai crescer aqui mesmo e com sorte a gente ganha umas praças para os nossos descendentes comerem pipoca. Podemos voar daqui? — Sabe, Edite, gostei dessa ideia da praça. Já posso até imaginar uma estátua nossa bem no centro dela, com uma frase em latim: AVIS DE ETERNUM, ou só ADE mesmo.
Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #297
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