há 2 anos
Redação
Por Edilson Kernicki
“Não vale a pena ficar tentando identificar quem é o pai dessa criança chamada Plantio Direto. Não se chegará a uma conclusão com consenso. O importante é reconhecer que muitas pessoas trabalharam para desenvolver e aprimorar o sistema ao longo do tempo, em várias regiões do mundo”, afirma o produtor rural Franke Djikstra, proprietário da Fazenda FrankAnna, em Carambeí. Autor do livro “O Solo Ensinou: Plantio Direto, Um Caminho Para o Futuro” (Inter Art, 2020), Djikstra é considerado um dos precursores e maiores incentivadores dessa prática, tendo contribuído para difundir e aprimorar o Plantio Direto entre produtores dos Campos Gerais e do país. Segundo especialistas, a técnica estabeleceu um “antes e depois” na agricultura, principalmente no que se refere ao manejo do solo. Antes da criação do Plantio Direto, os produtores tinham um problema em mãos: resolver o alto potencial erosivo ocasionado pelas chuvas de primavera e verão, que era intensificado pelo desmatamento e a mecanização intensiva para a preparação do solo. Em busca de uma alternativa para evitar a erosão, o produtor Herbert Arnold Bartz, de Rolândia, conheceu em 1971 a técnica batizada de Plantio Direto, no Instituto de Pesquisa de Experimentação Agropecuária Meridional (Ipeame), em Londrina. A prática consistia na abertura de sulcos para a deposição de sementes e fertilizantes sem revolver o solo. De forma pioneira, Dijkstra e o ponta-grossense Manoel Henrique Pereira (o Nonô Pereira, falecido em 2015) se basearam na experiência de Bartz e adotaram o Plantio Direto. Em reconhecimento ao trabalho realizado em prol da agricultura paranaense, os três receberam a comenda da Ordem Estadual do Pinheiro do Paraná, no grau de Grande Oficial. Em Brasília (DF), Nonô e Dijkstra também receberam o certificado e a comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico. Grande impulso Foi Nonô Pereira, presidente por três gestões da Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação (outrora Federação de Plantio Direto na Palha), quem deu o grande impulso na divulgação do Plantio Direto, desenvolvendo a técnica entre pequenos produtores no Brasil e no Paraguai, com a ajuda de Bartz. Em 1979, Nonô criou o Clube da Minhoca de Ponta Grossa, para disseminar o sistema, inspirado pela viagem que fez com Dijkstra a Lexington, no Kentucky (EUA), em 1979, para falar com Shirley H. Phillips, considerado o “pai mundial do Plantio Direto”, que já acompanhava o sistema há 28 anos. Em busca de um aval para a técnica, ambos foram acolhidos na cidade onde Phillips trabalhava, bem como na fazenda de Harry Young, que praticava o sistema No-Till (sem preparo de solo). Phillips os tranquilizou, dizendo que, àquela altura, já devia ter minhocas no solo – fato confirmado no retorno ao Brasil. A presença de minhocas no solo significava que os produtores não dependeriam mais do arado. Mais tarde, em 1992, o Clube da Minhoca deu origem à Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP), que congrega e representa associações que aplicam, estimulam e difundem o sistema do Plantio Direto, a fim de propagar os seus benefícios ao maior número possível de agricultores. A introdução do Plantio Direto na região, com rotatividade de culturas e produtividade em constante crescimento, deu-se a partir de 1976. Cerca de 40 anos antes, Walter Clay Lowdermilk já constatara que, nas antigas civilizações, a improdutividade, erosão e desertificação dos solos, mediante contínua extração, forçava os habitantes a se tornarem nômades em busca de novos locais para plantar. Por aqui, os primeiros colonos persistiram nesse mesmo erro, queimando madeira e material orgânico – a “gordura” da terra – até esgotar a produtividade do solo. A loucura do lavrador Uma das inspirações de Dijkstra para buscar informações sobre o Plantio Direto veio do livro “Plowman’s Folly” (A Loucura do Lavrador, 1943, de Edward H. Faulkner), recomendado pelo amigo Jan Heesterman, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial que veio morar na região. O autor mencionava que “jamais alguém apresentou uma razão científica para se lavrar o solo” e, assim, lançava o maior desafio do século XX à agricultura convencional. Foi em 1975, a partir da Comissão Agrícola Central das Cooperativas ABC – Arapoti, Batavo e Castrolanda – que o agrônomo holandês Hans Peeten foi convidado a desenvolver um sistema produtivo viável para o solo dos Campos Gerais. Com pós-graduação sobre os efeitos do uso de máquinas no solo, ele já havia experimentado o Plantio Direto. Dele, vieram duas grandes contribuições para consolidar o sistema: a indicação da necessidade de rotação de culturas e a cobertura do solo, que permite a reciclagem de nutrientes. O Plantio Direto, então, demonstrou-se a alternativa mais adequada para evitar a degradação do solo ocasionada pela erosão, que era reflexo de manejo de solo intenso, contínuo e múltiplo. A Comissão Central Agrícola das Cooperativas ABC contratou o agrônomo e agrimensor Richard Biersteker para atender à área de conservação de solo. O primeiro esforço foi o de priorizar a conservação do solo com preparo mínimo e curvas de nível, com uso de gradientes para escoar água, algo que não se mostrou tão eficaz, porque surgiam valetas de até 30 metros de profundidade.