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Michelle de Geus
Com os pés no presente e os olhos voltados para o futuro. É assim que a prefeita Elizabeth Schmidt (União) afirma estar governando Ponta Grossa. A sua segunda gestão à frente da Prefeitura Municipal tem sido marcada pelo desafio de resolver problemas que já se arrastam há anos e pelo comprometimento em resolver os principais gargalos que impedem o desenvolvimento da cidade. Ela garante que os resultados já são visíveis e comemora avanços em áreas importantes, como saúde, educação, segurança e infraestrutura. Ao mesmo tempo, a prefeita tem o desafio de planejar Ponta Grossa para o futuro e implantar diversos projetos que prometem mudar a cara do município, trazendo mais qualidade de vida para a população. A construção da UPA Oficinas e da Policlínica Municipal, a modernização e ampliação do Aeroporto Santana e a implantação de uma grande perimetral interligando os bairros da cidade são alguns exemplos disso. Nesta entrevista exclusiva, Elizabeth revela quais presentes entregou para a cidade ao longo de dois mandatos, quais ainda pretende entregar e quais os maiores presentes que recebeu da população ponta-grossense.
Ponta Grossa completou 202 anos de história no mês passado. O que essa data significa para a senhora?
Significa que tivemos passado, temos presente e teremos futuro. Eu me considero uma pessoa muito abençoada por ser prefeita nesta fase da cidade e poder fazer essa reflexão do passado, do presente e do futuro. Principalmente pensando que aquilo que estamos vivendo hoje, no nosso presente, poderia ser muito diferente. Se tivessem feito um planejamento bem grande, forte e robusto da cidade no passado, não teríamos os gargalos que temos hoje. Então, eu estou olhando para o futuro, para os próximos 30 ou 50 anos, porque eu quero que Ponta Grossa esteja cada vez mais feliz, mais próspera e menos desigual.
Essa é a segunda gestão da senhora como prefeita. Na sua visão, o que mudou em Ponta Grossa de lá para cá?
Nesse novo mandato, estamos fazendo grandes ajustes na administração municipal para preparar o futuro da cidade. Muitas questões que foram empurradas com a barriga pelos prefeitos anteriores ainda estão aqui. Algumas eu consegui resolver, outras ainda são um problema seríssimo, como, por exemplo, o transporte coletivo, que já se arrasta há anos. Estou com um time de secretários experientes, que estão dando um ritmo muito interessante para áreas cruciais e mudando o padrão dos fluxos internos para que a nossa população tenha serviços cada vez melhores.
Quais áreas da cidade têm recebido maior atenção durante os seus mandatos?
O grande destaque dessa mudança, que começamos no mandato anterior e estamos continuando agora, é na área da saúde. É uma das áreas mais importantes da população e onde tem uma grande fragilidade. Nós fizemos a UPA Uvaranas para que a nossa população tenha maior acesso à saúde e conseguimos diminuir um pouco o movimento na UPA Santa Paula e na UPA Santana. E vamos repetir esse sucesso quando inaugurarmos a UPA Oficinas. Vamos ampliar todo o conjunto de serviços ali no Centro de Atendimento à Criança, estamos construindo mais dois superpostos na Vila Cipa e no Jardim Royal, e vamos construir um Centro de Saúde onde era o Mercadão Municipal. Também estamos construindo a primeira Policlínica de Ponta Grossa, com R$ 30 milhões de investimentos, que vai oferecer exames de imagem, consultas com especialistas, pequenos procedimentos cirúrgicos e atendimento a vítimas de violência. Além disso, o deputado Aliel Machado viabilizou, lá em Brasília, mais de R$ 100 milhões para a construção da nova torre no Hospital Universitário e tem ainda o Centro de Especialidades que o Governo do Estado está construindo no terreno da universidade também. Eu não vou sossegar nesses próximos quatro anos até fazer dos nossos serviços de saúde um exemplo de respeito ao cidadão.
Esse foi o maior desafio que a senhora enfrentou até agora?
Com certeza. Era uma grande fragilidade, e tivemos que tomar medidas impopulares. Devolvemos os hospitais que eram municipais para o Governo de Estado, para que pudéssemos respirar financeiramente e conseguíssemos investir na atenção básica à saúde. A segurança também deu um salto muito grande. Nós investimos muito, ano a ano, na nossa Guarda Municipal, e, conforme a cidade cresce, conforme entra mais dinheiro, nós podemos contratar mais. Hoje estamos com 403 guardas civis na cidade e vamos entregar mais frota e novos armamentos para que eles tenham possibilidades de trabalhar. Eu, enquanto primeira prefeita mulher, penso como todas as demais mulheres da nossa cidade e quero a melhor segurança para os meus entes queridos. Outro desafio grande é a questão da infraestrutura da nossa cidade. Já fizemos mais de R$ 650 milhões de asfalto e agora, no começo de setembro, saiu uma nova licitação de mais de R$ 95 milhões de financiamento do BRDE. Eu estou ouvindo palavras maravilhosas das pessoas, agradecendo a longa espera, de 40, 50, até 60 anos, para o asfalto chegar na casa delas.
Em quais outros aspectos a senhora gostaria que a cidade melhorasse?
Eu preciso transformar a cidade e preparar Ponta Grossa para esse momento que ela nunca viveu. E como é que vamos conseguir isso? Corrigindo distorções administrativas, modernizando, atualizando projetos, tomando medidas corajosas, como a revisão do valor dos terrenos para o cálculo do IPTU, por exemplo. Foi algo que todo mundo empurrou para a frente, e a cidade ficou quase 50 anos sem atualização da Planta Genérica de Valores (PGV), o que é um absurdo. Todo mundo cobra da prefeita serviços de qualidade, mas isso é impossível se não tivermos dinheiro, e a nossa Prefeitura estava de mãos atadas até agora, porque o IPTU é uma das maiores fontes de arrecadação. Ponta Grossa era uma cidade grande, mas com a Prefeitura mais pobre em termos de recursos. O próximo prefeito vai ter um orçamento bem melhor do que o nosso e, além disso, eu estou pensando no futuro da cidade. Em 2029, eu não serei mais prefeita, mas vai começar a existir um novo imposto. Ele será centralizado lá no Governo Federal e o repasse para todos os municípios será uma média do orçamento de 2019 a 2026. Falaram que eu sou vilã. Eu não sou vilã: sou justa, séria e corajosa.
A senhora já falou bastante sobre a diferença entre Ponta Grossa e outras cidades do mesmo porte. O que falta para superarmos Londrina e Maringá em questões como PIB, desenvolvimento humano e economia?
Cada cidade tem uma história e um conceito pelo qual ela foi concebida. Londrina tem 90 anos e Maringá tem 75 anos, são cidades muito jovens e com muito planejamento. Ponta Grossa tem mais de 200 anos de história, mas nunca foi projetada. São realidades completamente diferentes e não dá para comparar. Ponta Grossa precisa de projetos e programas muito fortes em várias áreas, e de gente séria e corajosa para colocar a cidade no patamar de respeito que ela merece. E agora isso já está acontecendo. Nós somos o primeiro PIB per capita do interior do Paraná e estamos nos destacando muito no que se refere à arrecadação de ICMS, porque temos inúmeras indústrias chegando à nossa cidade e o maior parque industrial do interior do estado é o nosso. O mais importante é que estamos virando a chave em várias áreas e nada será como era antes.
Por falar em virada de chave, existe alguma realização de suas gestões que a senhora considera um divisor de águas para o município?
Eu adoro ver como a nossa educação mudou. O uniforme das crianças, a merenda de qualidade, os equipamentos, os professores muito bem qualificados e valorizados. E queremos melhorar ainda mais. A secretária Joana [D’Arc Panzarini] tem feito um trabalho de aproximação entre professores e diretores que vai ter grande resultado para que o nosso Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] suba mais. Assim como fizemos com os postinhos de saúde, que estão todos revitalizados, também estamos fazendo com as nossas escolas antigas. Estamos deixando as nossas escolas e CMEIs reestruturados e vamos entregar dez novos CMEIs até o final do ano.
Como prefeita, quais foram os principais “presentes” que a senhora deu para a cidade até agora?
São tantos presentes. A UPA Uvaranas, que já é realidade, é um presentão. A Policlínica será um novo presentão. Outro grande presente seria conseguirmos resolver os desafios que se referem ao Aeroporto Santana, e estamos trabalhando para isso. O recurso de R$ 35 milhões que o deputado Sandro Alex conseguiu, em 2019, ficou mais de quatro anos parado em disputa judicial e só agora foi liberado. Já começamos a construção do novo terminal de passageiros e logo vamos iniciar as obras para ampliação da pista de pouso e decolagens do aeroporto. Também estamos planejando uma grande perimetral, que vai interligar todos os bairros da cidade e transformar a nossa mobilidade urbana. Cada obra e cada ação que a gente faz, eu penso que é para a cidade e para as pessoas que aqui vivem. Tem muitas novidades vindo por aí, que eu quero deixar como legado.
E qual é o maior “presente” que a cidade deu para a senhora?
Ah, é muita felicidade todos os dias. As palavras que eu recebo da população, o carinho com o qual eu sou recebida nos lugares onde eu vou, as crianças felizes quando eu chego nas escolas, tudo isso não tem preço, e eu até me emociono.
Quais são as suas memórias mais marcantes de Ponta Grossa quando era criança ou jovem?
São lembranças muito boas e tudo remete a saudades. Saudades daquilo que era e de como vivíamos. Saudades até mesmo das dificuldades e dos desafios que eu enfrentei durante todo esse período, junto com o meu pai, com a minha mãe, depois com o meu marido. É muito gratificante ver as mudanças pelas quais a cidade foi passando, o processo de industrialização que aconteceu lá na década de 70, e o fato de agora eu, como prefeita, estar trazendo esse novo impulso na industrialização para a cidade. É maravilhoso olhar para trás e ver que tem pegadas, e pegadas muito boas.
Quais são, na visão da senhora, os momentos mais importantes da história de Ponta Grossa?
Quando Ponta Graça fez 100 anos, ela ainda era tão provinciana e tão pequenininha. Nos 150 anos, a cidade já tinha outra cara. E agora, nos anos 200, foi melhor ainda. Foi maravilhoso o que vimos acontecer na nossa cidade, os saltos de desenvolvimento que Ponta Grossa já deu e aqueles que eu ainda quero que ela dê daqui a 50 anos. Foi sensacional abrir aquela cápsula do tempo [enterrada em 1973, em comemoração aos 150 anos da cidade], mas foi um choque ver que não citaram o nome de nenhuma mulher. Na época, eles nem imaginavam que a pessoa que ia abrir a cápsula seria uma prefeita mulher. Nós já avançamos muito nesse sentido, mas ainda temos muita misoginia [preconceito contra mulheres] e muito etarismo [preconceito contra idosos]. Eu sofro muito com isso e minhas secretárias também.
Que lugares da cidade a senhora gosta de frequentar, seja para comer, passear ou descansar?
Eu adoro estar nos bairros. A nossa cidade tem essa topografia tão difícil, mas eu adoro ir até as colinas e olhar a cidade do alto. Cada vez que eu estou em um ponto mais alto, eu enxergo a cidade de longe e me apaixono. É o meu lugar favorito.
Se tivesse que descrever Ponta Grossa para uma pessoa que nunca ouviu falar da cidade, o que a senhora falaria?
Venha. Venha, porque a nossa cidade tem belezas naturais e belezas culturais maravilhosas. É uma cidade que ainda é provinciana, mas já é cosmopolita. Ela recebe de braços abertos pessoas do mundo todo e estamos cada vez mais abertos para que essas pessoas venham. É uma cidade acolhedora, uma cidade do diálogo.
Conteúdo publicado na edição 308 da revista D'Ponta