há 13 horas
Giovanni Cardoso

Jung, ao recorrer à metáfora da química, concluiu: “o encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas; se houver alguma reação, ambas se transformam”. Para o psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica, a natureza dinâmica das interações humanas torna impossível que um encontro significativo deixe as pessoas inalteradas.
O diálogo junguiano entre pessoas e substâncias sugere que indivíduos, como reagentes, têm composições e características próprias e, ao interagirem, podem desencadear uma reação que altera algo essencial em cada um. A transformação pode ser positiva ou desafiadora; o fato é que o resultado nunca é a permanência do estado original.
É exatamente assim que leio o encontro entre Lula e Trump, na madrugada deste domingo (horário de Brasília), na Malásia. O primeiro efeito prático deverá aparecer no modo como o governo Trump olhará para o Brasil e em que termos buscará manter as relações comerciais e diplomáticas com o governo Lula. Não vislumbro guinadas ideológicas de parte a parte, mas sim uma objetividade derivada de conversa franca, pautando relações maduras. Jogo de ganha-ganha, como pede o tabuleiro multilateral.
Quem ganha com isso? De saída, os setores produtivos e os consumidores dos dois países. A sombra de tarifas impostas pelos EUA - e o consequente desvio de comércio do Brasil para outros mercados - deixa de produzir danos mensuráveis.
Ganha, sem dúvida, o presidente Lula, que volta a se apresentar ao mundo como governante com capacidade de diálogo, um solucionador de problemas. Cresce no cenário global - e, inevitavelmente, isso repercute na sua imagem interna. Defendeu o seu povo sem se curvar, sem bravata, sem elevar a voz. Fez o que aprendeu na escola sindical: negociar.
E quem perde? Perdem os golpistas lesa-pátria. A família Bolsonaro, que - com Eduardo como ponta de lança - tentou impor prejuízos a empresas, empregos e à economia brasileira para proteger a própria pele. Para escapar da cadeia, quiseram pôr o País de joelhos - e tomaram uma invertida. Com eles, seguirão abraçados os que tentaram surfar na defesa cega do MAGA: Tarcísio de Freitas, Ratinho Junior, Caiado, Zema, Ciro Nogueira e alguns bagrinhos do Centrão.
Lula acaba de fazer uma jogada importante para 2026. Recorro novamente a Jung: o presidente brasileiro demonstra uma intuição treinada - um conhecimento profundo que o torna sensível a sinais sutis que muitos ignoram, capaz de captar a “atmosfera psicológica” de situações e pessoas como poucos. Por isso, o gol marcado no encontro com Trump não é acidente: é leitura de cenário, timing e reação química bem conduzida.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político
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