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Artigo: 'Os Estados Unidos e o mito da democracia plena', por Oliveiros Marques

há 2 dias

Giovanni Cardoso

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Artigo: 'Os Estados Unidos e o mito da democracia plena', por Oliveiros Marques
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A imagem dos Estados Unidos como farol universal da democracia vai se apagando, lentamente, diante da luz dura da realidade. Aquilo que se vende ao mundo como modelo de liberdade política e participação popular é, na prática, um sistema onde o voto sobrevive, mas o poder já mudou de mãos.

A democracia americana existe, mas como vitrine - um produto bem embalado, destinado à exportação ideológica. Por trás do vidro polido das instituições, opera-se um mercado de influência em que o preço da representação é tabelado em dólares.

Desde 2010, quando a Suprema Corte norte-americana abriu as porteiras do financiamento eleitoral norte-americano, corporações e bilionários ganharam o direito de transformar fortuna em poder. Surgiram então os Super PACs, esses grandes instrumentos de influência criados para despejar bilhões em campanhas eleitorais, moldar legislações e sequestrar o debate público.

Em 2024, os “investimentos” totais nas eleições federais dos Estados Unidos superou US$ 17 bilhões - cifra obscena até para uma economia habituada a superlativos. Nesse ambiente, candidatos já não representam eleitores, mas investidores. O processo eleitoral tornou-se um leilão de promessas, e a política, um negócio de alta liquidez.

A ciência confirma o que o instinto democrático há muito suspeita. O estudo dos professores Martin Gilens e Benjamin Page, da Universidade de Princeton, demonstrou claramente que os desejos, as demandas, os sonhos, as preferências do cidadão comum têm impacto quase nulo sobre as decisões políticas. Já os interesses das elites econômicas e dos grupos organizados produzem efeitos profundos e permanentes. Em outras palavras: o Congresso é eleito pelo povo, mas responde aos acionistas dos seus mandatos.

A democracia americana mantém suas liturgias - urnas, liberdade de imprensa, rituais de posse -, mas perdeu substância. É um corpo institucional animado por um espírito oligárquico. O “governo do povo” foi substituído pelo governo dos investidores.

O resultado é o esvaziamento da cidadania. O eleitor vota, mas sabe que vota em vão. Suas demandas não se convertem em políticas públicas, e a desigualdade social - uma das mais agudas do mundo desenvolvido - perpetua-se por meio de um sistema que premia quem tem acesso a lobbies e fundos de campanha. A liberdade formal convive, assim, com a impotência prática: a certeza de que, por mais legítimo que seja o voto, as decisões fundamentais são tomadas nas salas de reunião dos bancos e corporações, não nas urnas.

Chamar esse modelo de “democracia imperfeita”, utilizando o Índice de Democracia da The Economist Intelligence Unit – da revista The Economist - seria um gesto de delicadeza. Trata-se, na verdade, de uma oligarquia de mercado, sofisticada e bem administrada. Um regime em que o dinheiro fala mais alto que o voto e os interesses públicos são reduzidos a nota de rodapé nos balanços trimestrais.

Os Estados Unidos seguem sendo uma democracia - mas apenas para aqueles que pagam por ela.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político

*Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do Portal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos termos e problemas brasileiros e mundiais que refletem as diversas tendências do pensamento.

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