há um dia
Oliveiros Marques

A vira-latisse cobra um preço alto. Os estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e São Paulo que o digam. São cerca de R$ 2,6 bilhões em exportações perdidas até agora, cortesia do “tarifaço” do governo norte-americano - com a valorosa colaboração do filho do inelegível e de seu comparsa tropical de cabelo engomado, o filhote de ditador. Tudo sob aplausos entusiasmados dos governadores Romeu Zema, Jorginho Mello, Ratinho Júnior e Tarcísio de Freitas, que não hesitaram em vestir o boné vermelho - o símbolo do figurino do movimento “Make America Great Again” liderado pelo primo distante desses governdores, Donald Trump.
Um estudo recente da Fundação Getúlio Vargas não deixa margem à dúvida: entre os estados mais afetados pelas tarifas impostas pelos EUA, estão justamente aqueles onde o bolsonarismo pró-Trump virou palanque. Santa Catarina amarga R$ 515 milhões em perdas; Paraná, R$ 443 milhões; São Paulo, R$ 505 milhões; e Minas Gerais, o campeão, com R$ 1,2 bilhão em exportações frustradas.
Os setores mais atingidos incluem aço, alumínio, carnes e manufaturados, justamente os que mais dependem da exportação para o mercado norte-americano. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a medida já impacta mais de 120 mil empregos diretos e indiretos, com retração estimada de 0,2% no PIB industrial dessas regiões.
O mais curioso – não fosse trágico - é que, enquanto os EUA erguiam barreiras contra produtos brasileiros, os governadores desses estados seguiam louvando Trump, fingindo que o problema era o governo Lula. No Sul Maravilha, produtores revoltados com a queda nas vendas jogam arroz na calçada e gravam vídeos contra Brasília, em vez de se dirigirem aos seus aliados de sempre - aqueles que hoje se cobrem com a bandeira do bolsonarismo MAGA.
Mas, como todo bom roteiro da ironia nacional, é o governo que eles tanto xingam que trabalha para consertar o estrago. Linhas especiais de crédito do BNDES, incentivos fiscais temporários e negociações diplomáticas para abrir novos mercados vêm sendo articuladas justamente para socorrer quem aplaudiu o “tarifador laranja” de terno azul-marinho.
No fim, a história tem uma moral clara: não há tarifa mais alta do que a da submissão ideológica. Os governadores do boné vermelho descobriram, da forma mais cara possível, que bajular gringo não paga folha, não gera emprego e custa muito caro para a economia de seus estados.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político