Em entrevista ao canal por assinatura CNN Brasil, nesta quinta-feira (7), a secretária especial da Cultura, Regina Duarte, negou rumores sobre a própria demissão. A entrevista foi marcada por posicionamentos dúbios sobre ditadura militar e uma discussão com os apresentadores durante o encerramento.
A atriz afirma que está com a ‘consciência limpa’ e que está tranquila porque tem ‘muita história’. A secretária disse que tem evitado as redes sociais para não se contaminar com as discussões.
“As pessoas têm certa ansiedade em me ver fora [do governo]. Em nenhum momento [houve ameaça de demissão]. Tava um clima super bom, feliz, leve. Ele [Bolsonaro] está sempre rindo. Ele estava em um momento assim”, afirmou.
Conforme a secretária especial da Cultura, o próprio presidente Jair Bolsonaro havia alertado sobre o que viria pela frente: “tem certeza que você quer aceitar essa missão? o jogo é muito pesado”, teria dito o presidente, conforme a atriz.
No decorrer da entrevista, a secretária especial do governo Jair Bolsonaro defendeu que a Cultura não tem lado, que é aberta para a humanidade e que deve ser plural. Regina Duarte condenou críticas feitas ao período da ditadura militar (1964-85).
“Tem que olhar para frente, ser construtivo, amar o país. Ficar cobrando coisas que aconteceram nos anos 60, 70, 80… Vamos embora para frente”, afirmou à CNN Brasil.
Regina Duarte emendou a frase com a marchinha “Pra frente Brasil/Salve a seleção”, que marcou a conquista do tricampeonato mundial de futebol, em 1970. O governo do ditador Emílio Médici usou amplamente a canção em campanhas publicitárias ufanistas e capitalizou politicamente o sentimento de euforia.
“Não era bom quando a gente cantava isso? Eu vou falar uma coisa assim: na humanidade, não para de morrer. Se você fala de vida, do lado tem morte. Stalin, Hitler… quantas mortes? Soe leve. Estamos vivos. Vamos ficar vivos. Para que olhar para trás?”, questionou Regina Duarte.
A atriz continuou em tom otimista e criticou a “morbidez” do noticiário decorrente da pandemia do coronavírus (Covid-19).
Regina Duarte também foi questionada sobre o silêncio da secretaria especial da Cultura em relação aos artistas que morreram recentemente.
Entre as personalidades que deixaram de ser homenageadas pela pasta estão o cantor e compositor Moraes Moreira, o poeta e compositor Aldir Blanc, e o ator Flávio Migliaccio.
“A minha assessoria de comunicação, desde o primeiro falecimento de uma pessoa importante na Cultura, me cobrou uma divulgação da Secretaria. Eu optei por mandar uma mensagem, como secretária, para as famílias das pessoas”, justificou Regina Duarte.
A atriz também defendeu que o constrangimento causado pelo posicionamento da secretaria especial da cultura não foi proposital.
“Eu imaginei: ‘será que a Secretaria vai virar um obituário?’. Ou ele existe, ou não existe. Tem pessoas que não conheço. O país está cultuando a memória deles. Se eu conseguir amadurecer a possibilidade que isso é importante para as pessoas, posso ter o obituário”, minimizou.
Durante a entrevista ao canal por assinatura CNN Brasil, a secretária especial da Cultura também comentou sobre outros assuntos recentes relacionados à pasta.
Regina Duarte admitiu que foi pega de surpresa com a nomeação do ex-presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes), o maestro Dante Mantovani, que foi demitido havia dois meses, no início da gestão da atriz.
Mantovani foi novamente nomeado, embora o governo tenha recuado horas depois e tornado a portaria sem efeito.
“Fui totalmente surpreendida, fiquei muito surpresa. O Mantovani é isso: é uma pessoa que não conheço, mas gostaria de conhecer. Achei um cara estruturado, que conhece o setor”, minimizou.
Sobre o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, a quem foi chamada de “gagá” por acusado o governo de lidar com facções internas, Regina Duarte diz não guardar mágoas.
“Não perdi respeito em nenhum momento. É um intelectual que tem história, mas parei de ler. Eu tenho evitado. Sinto resistência da burocracia, das coisas andarem”, afirmou.
A secretária especial da Cultura do governo Jair Bolsonaro encerrou a entrevista quando foi exibido um vídeo com críticas da também atriz Maitê Proença. O encerramento foi precedido por uma discussão com os apresentadores da CNN Brasil.
“Baixo nível isso? Vão colocar fala dela? Vocês estão desenterrando esse vídeo para quê? O que vocês ganham com isso?”, concluiu Regina Duarte, irritada.
No vídeo, Maitê Proença teceu críticas à gestão da Secretaria Especial da Cultura e afirmou que Regina Duarte não conversa com a classe.
Imagens/informações: Paraná Portal.