Depois de afirmar que aprendeu, em viagem ao Japão, a importância dos deputados federais na composição do governo, Sandro Alex (PSD) foi questionado sobre o motivo de impugnar a candidatura de Jocelito Canto (PSDB), em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta quarta (5). A impugnação impede, por ora, que os Campos Gerais tenham um terceiro representante na Câmara Federal, visto que Jocelito vai precisar recorrer ao TSE em busca de validar sua votação.
Sandro conseguiu, em todo o Estado, mais que o dobro de votos de Jocelito, ainda que, em Ponta Grossa, tenha sido apenas o segundo entre os mais votados. No Paraná, o deputado federal fez 168.157 votos e foi o quinto mais votado. enquanto Jocelito fez 74.348, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em Ponta Grossa, no entanto, ficou atestada a popularidade do ex-prefeito e ex-deputado estadual, que conquistou quase 24 mil votos a mais que Sandro Alex.
O deputado federal eleito alega que, ainda que discorde totalmente da linha ideológica seguida por Aliel Machado (PV), alinhado à oposição, o respeita muito e afirma ter com ele um relacionamento “extremamente cordial”. “Ele me cumprimentou no sábado (3), antes da eleição, em pleno Calçadão, me desejando boa sorte”, diz.
Porém, isso não o fez se associar ao colega parlamentar para mover uma ação de impugnação contra a candidatura de Jocelito, ainda que o impugnado defenda o contrário. “Não tenho diálogo com ele sobre isso. Eu entrei com uma ação. Se ele ia entrar ou não com uma ação, era decisão dele. Quando acionei, não conversei com ninguém”, justifica. Sandro argumenta que tem um bom relacionamento com Aliel Machado e que isso comprova que é possível ter um adversário, que não se posiciona no mesmo campo ideológico e, ainda assim, ter um bom diálogo e respeito.
Entretanto, quanto a Jocelito, ele ressalta que, como legislador, votou e aprovou a lei da Ficha Limpa. “Não tenho problema com ele. O problema dele não é comigo, o problema dele é com a Justiça.”, rebate Sandro Alex. “Se você me perguntar se não seria bom que tivesse mais um parlamentar, eu acho que, quanto mais forte a representação, melhor”, complementa.
Sandro reforça que Jocelito tenha cometido crime de improbidade administrativa e dano ao erário e que, por essa razão, estaria inelegível em 2022. “Ele tem vários problemas na Justiça e esse não é o único. Esse problema que ele tem na Justiça é de improbidade e dano ao erário, que o torna inelegível. Ele causou dano ao erário e foi a Justiça que definiu isso. Eu sou do Poder Legislativo, o Poder Judiciário diz que ele está inelegível, por um crime cometido e não cumprimento da sanção. Se ele puder ser eleito, temos que rasgar a lei da Ficha Limpa”, retruca.
O deputado afirma que se Jocelito puder ser eleito, apesar da lei da Ficha Limpa, o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, também poderá, assim como o ex-ministro José Dirceu. “Todos aqueles que têm problema com a Lei da Ficha Limpa vão poder também”, diz.
Segundo o parlamentar, o MPPR se antecipou ao pedido de impugnação apresentado por ele e já tinha se manifestado pela inelegibilidade de Jocelito Canto. “E a ampla maioria dos votos [do TRE-PR] foi pela inelegibilidade e ontem foi também, unanimidade. Cabe à Justiça, não cabe a mim”, ressalta.
Sandro nega que seu irmão, o ex-prefeito Marcelo Rangel (PSD), eleito deputado estadual no domingo (2), pudesse ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, porque não existe condenação contra ele, apesar de responder a um processo que o envolve no caso dos “Fantasmas da ALEP”. “Marcelo não tem condenação e, inclusive, foi injustiçado, ao longo de vários anos, justamente, por quem é condenado. Ele solta o verbo contra todo o mundo”, defende.
Caso Jocelito tenha vitória no Tribunal Superior Eleitoral, Sandro diz que não há mais o que ser feito e que não cabe recurso. “O TSE já é a última instância. Não tem o que recorrer, não vou recorrer a nada. Só que vai mudar a Lei da Ficha Limpa para o Brasil. Muito bem, então, Ponta Grossa, Capital Cívica do Paraná, vai dar o exemplo de rasgar a Lei da Ficha Limpa e a jogar no lixo, porque queremos mais um representante”, diz.
O deputado federal reeleito argumenta que não é a quantidade de representantes na Câmara o que torna uma cidade forte, mas a qualidade dessa representação.
“Temos na eleição inúmeros nomes que não deveriam estar. Cabe a cada um de nós fazer sua parte e buscar restaurar a lei e a verdade”, afirma. Sandro defende ter cumprido sua parte e diz que, nos últimos anos, todos os dias foi alvo de críticas do mesmo grupo político, por malversação, porque não teria um apontamento sequer no Ministério Público.
“Esse foi, inclusive, o mote da campanha deles: a própria ação. Durante a eleição toda não falei nada sobre o processo. Fui criticado todos os dias. Ele foi, de bairro em bairro, falando ‘vamos ganhar’. Contra a Lei da Ficha Limpa. Muito bem, é teu mérito. Mas eu vou buscar sempre a lei e a verdade. Esse é meu objetivo”, reclama.
Eleição municipalizada
O parlamentar avalia que a votação expressiva de Jocelito em Ponta Grossa ocorreu porque “a eleição foi municipalizada”. Na opinião de Sandro, Jocelito só obteve uma votação expressiva por causa da rejeição ao ex-governador Beto Richa, que se candidatou a federal e teve cerca de 10 mil votos a menos que o ex-prefeito de Ponta Grossa. “Toda eleição tem uma exceção e essa foi a da eleição de 2022, a forma como foi conduzida dentro do PSDB. Com essa quantidade de votos, não estaria eleito em outros partidos”, afirma.
Sandro opina que a campanha de Jocelito municipalizou a eleição e concentrou seus esforços em atacar a administração porque seu grupo político perdeu as eleições de 2020. “Não sou o prefeito. Eu sou parlamentar, não teve críticas ao meu mandato. A crítica era, pontualmente, contra uma administração, pela eleição passada, que eles perderam”, diz.
O deputado federal eleito considera, aliás, que a campanha de Jocelito acabou beneficiada pelo processo, porque ele “se vitimizou”.
De acordo com Sandro Alex, a eleição deste ano foi usada como “trampolim” para as eleições municipais de 2024. “Muitos se candidatam, mesmo não tendo condições, para tentar levantar o nome para a próxima”, diz. Ele reafirma que não houve críticas a seu mandato e a seu trabalho, mas à administração municipal do grupo político do qual ele faz parte, quando questionado se essa crítica respingou no resultado de sua votação, com a perda de votos em seu domicílio eleitoral.
Confira a entrevista de Sandro Alex na íntegra: