há um dia
Giovanni Cardoso

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, durante audiência pública na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados na última segunda-feira, reiterou sua posição favorável ao fim da escala de trabalho 6×1. Indicando que o diálogo e a negociação são sempre positivos, afirmou, contudo, que a economia brasileira sustenta, tranquilamente, a redução da jornada de trabalho e o aumento dos períodos de descanso - movimento importante no sentido da aprovação da PEC 08/25, de autoria da deputada Erika Hilton (PSOL/SP).
A escala 6×1 nasceu em um Brasil que engatinhava na industrialização, ainda no século passado, com a lógica de extrair o máximo de horas do trabalhador para compensar a baixa tecnologia utilizada no mundo do trabalho e, por consequência, a baixa produtividade. Virou costume - e costume virou regra tácita. Mas o país mudou: cadeias produtivas mais sofisticadas, serviços intensivos em conhecimento e automação em alta. O que era argumento ontem, hoje é anacronismo.
Seis dias seguidos de trabalho e um de descanso, repetidos por meses, cobram um preço alto na saúde física e mental dos trabalhadores e trabalhadoras, desmontam a vida familiar e, paradoxalmente, derrubam a produtividade. Gente exausta erra mais, adoece mais, falta mais. Crianças crescem sem convivência; casais se desencontram; comunidades perdem o tempo do cuidado. Não é “mimimi”: é economia real - rotatividade, afastamentos e acidentes custam caro às empresas e ao Estado.
Experiências mundo afora mostram que reduzir jornada mantém - e até aumenta - os resultados. Modelos 4×3 e semanas de 32–36 horas, por exemplo, preservaram indicadores de entrega e ampliaram o bem-estar. Não se trata de copiar fórmulas, mas de reconhecer a direção: produtividade se conquista com processo, tecnologia e gente descansada - não com mais horas sobrecarregando ombros e mentes.
Na audiência pública, o ministro foi taxativo: a economia brasileira sustenta o fim da escala 6×1. E acrescentou: diálogo e negociação são necessários - com sindicatos fortes à mesa, metas pactuadas, transições setoriais e calendários realistas. Quando capital e trabalho conversam de boa-fé, todos ganham: a empresa, com previsibilidade e ganhos de produtividade; o trabalhador, com vida organizada e saúde protegida.
A aprovação da PEC 08/25, de autoria da deputada Erika Hilton, é o caminho para redesenhar a jornada de trabalho no Brasil e por fim à escala 6×1. O Congresso pode - e deve - organizar uma transição responsável, considerando a realidade das micro e pequenas empresas, estimulando ganhos de produtividade e vinculando a redução de horas a políticas de saúde e segurança do trabalho. É possível; já há base econômica e social para isso.
Contudo, nada mudará sozinho. É hora de mobilização da sociedade brasileira: trabalhadores e trabalhadoras, movimento sindical, juventude, academia, movimentos sociais - e até empresários comprometidos com o futuro - assumirem essa pauta, e cada cidadão pressionar seus representantes. A política serve para isso: transformar consenso social em regra de vida.
O Brasil cresceu, amadureceu e pode produzir melhor com pessoas inteiras, não exauridas. Fim da 6×1 não é luxo: é civilização, saúde de quem trabalha, família protegida e produtividade inteligente. Vamos juntos virar essa página.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político
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