A situação do abastecimento de água para o futuro diante das mudanças climáticas foi um dos temas abordados em painéis de debates durante o 31º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, em Curitiba. Organizado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), é o primeiro grande evento realizado na Capital após o início da pandemia. A Sanepar está participando como patrocinadora e com a presença de profissionais da área nas palestras e apresentações de trabalhos. Pela primeira vez de forma híbrida, o congresso pôde ser assistido presencial e virtualmente por centenas de pessoas.
Em palestra sobre a crise hídrica e os usos múltiplos da água, o diretor de Meio Ambiente e Ação Social da Companhia, Julio Gonchorosky, disse que a crise vivida no Paraná e em outros estados é uma história que ainda está sendo escrita. “Vivemos um período bastante crítico que ainda não tem previsão de quanto vai durar. Temos pela frente o próximo período de seca, no outono e inverno de 2022, mas esperamos dificuldades muito menores do que as que tivemos até agora”, ressaltou.
O superintendente de Regulação de Usos de Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), Patrick Thadeu Thomas, enfatizou que a escassez de água, antes restrita a algumas regiões do País, é uma realidade agora bastante abrangente no Brasil e exige novos protocolos e sistemas de gestão de crise hídrica.
“É preciso atitudes de adequação a este cenário, ter regras de operação dos sistemas estabelecidas para períodos atípicos. Às companhias de abastecimento é necessário adotar uma engenharia de adaptação. À indústria e sociedade cabem igualmente maior esforço e a adoção de medidas de uso mais eficiente do recurso”, afirmou.
No painel sobre adaptação e mitigação no planejamento e na execução dos serviços de saneamento devido às mudanças climáticas, o pesquisador em meteorologia e doutor em mudanças climáticas Francisco Eliseu Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), disse que o planeta está no seu período mais quente dos últimos 2 mil anos.
“Isso impacta o sistema climático de todo o planeta de diferentes magnitudes. Temperaturas maiores aceleram fenômenos do clima. Provavelmente vamos encerrar 2021 como o sexto ou sétimo ano mais quente dos últimos 150 anos. Isso nos faz olhar em mapas e eventos extremos ocorridos e notar, por exemplo, que tivemos o terceiro inverno mais quente na América do Sul do último século”, alertou o professor.
“As concentrações de dióxido de carbono (CO2) nunca estiveram tão altas, e esse rápido aumento traz consequências. Favorece o aumento da temperatura, o que intensifica fenômenos como fortes secas, tempestades severas, ondas de calor e de frio”, completou.
Aquino afirmou, ainda, que essa realidade tem sido percebida no Sul do País, região que comumente não sofria com secas tão intensas e tempestades muito severas. “Vemos atualmente maior número de dias, semanas ou meses ou em estiagem ou em precipitação extrema, intensa. Crises hídricas e ondas de calor serão mais comuns. Estamos com grandes desafios para pensar o planejamento estratégico do saneamento no nosso País. Nossas decisões e planos futuros de preservação ambiental versus as mudanças climáticas em franca aceleração causadas por nossas próprias atividades determinarão se teremos um cenário ruim ou péssimo”, concluiu.
O 31º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental é realizado no espaço Expo Unimed, em Curitiba, junto com a Feira Internacional de Tecnologias de Saneamento Ambiental (Fitabes), e se encerra na noite desta quarta-feira (20).
da AEN