Surpreendi-me durante a semana, enquanto compartilhava um de meus escritos, quando recebi a seguinte pergunta: “Por que eu leria?” Não pude deixar de esboçar um sorriso, pois, sempre me faço a mesma pergunta quando finalizo a ideia de um texto, colocando-me como leitor, e imagino que todo escritor se faz este questionamento.
Quisera eu ter o prestígio dos romancistas e dos grandes autores dos clássicos da literatura! Mas, em narrativas curtas que abordam o cotidiano, como as crônicas, sujeitamo-nos à mortalidade de nós mesmos e de temas, pois, estes vencem aqueles, consumidos pelo tempo.
Leio e escrevo crônicas como quem lê e escreve o mundo, porque verdadeiramente o fazemos. E descobrimos o cintilar do mundo na simplicidade, e a riqueza, na singeleza de palavras – o encontro fortuito de nós mesmos. Penso que só escrevo porque leio, e leio porque escrevo. Ainda que tenha ideias divergentes, críticas ou congratulações, só serei capaz de fazê-los se ler. Creio que ler é um ato de libertação, de reflexão e de construção de si mesmo e do mundo.
A inquietude, originada pela simples pergunta, levou-me a refletir profundamente, e pela primeira vez deixei o lápis repousar sobre o papel branco por um longo tempo. Então, concluí que talvez não existam bons motivos para ler o que escrevo, ou motivos convincentes, mas também não existe motivo que lhe impeça de ler!
Além disso, inúmeros são os benefícios que a leitura nos proporciona, desde o desenvolvimento da criatividade, diminuição do estresse, estímulo de diferentes partes do cérebro e até mesmo aumento da expectativa de vida, como aponta a Revista Galileu, em um estudo feito por diferentes universidades americanas, tais como Universidade Yale, nos EUA; Universidade de Toronto, no Canadá; Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Escrevo “do simples rés do chão”, como nos traz Antonio Candido, e busco, mesmo que infimamente, retomar a ternura das coisas esquecidas, do olhar ao outro para além de nós, do contemplar admirado das paisagens naturais e a doçura das memórias de infância, doçura esta que nos falta na vida adulta. Se não falarmos sobre as coisas mais simples, quem falará?
Ainda que nos faltem tantas virtudes, e nossos olhos estejam cegos pela rotina e nossas mentes deprimidas e oprimidas pela ansiedade, que façamos da leitura um hábito, a chave para compreensão do mundo e de nós mesmos, exercício de paciência, reflexão e ampliação do horizonte da visão crítica. E quando a dúvida lhe cercar, questione-se: Por que não ler?
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