Domingo, 15 de Dezembro de 2024

Coluna Lettera: ‘Um bom motivo para ler’, por Francielly da Rosa

2021-11-07 às 10:14

Surpreendi-me durante a semana, enquanto compartilhava um de meus escritos, quando recebi a seguinte pergunta: “Por que eu leria?” Não pude deixar de esboçar um sorriso, pois, sempre me faço a mesma pergunta quando finalizo a ideia de um texto, colocando-me como leitor, e imagino que todo escritor se faz este questionamento.

Quisera eu ter o prestígio dos romancistas e dos grandes autores dos clássicos da literatura! Mas, em narrativas curtas que abordam o cotidiano, como as crônicas, sujeitamo-nos à mortalidade de nós mesmos e de temas, pois, estes vencem aqueles, consumidos pelo tempo.

Leio e escrevo crônicas como quem lê e escreve o mundo, porque verdadeiramente o fazemos. E descobrimos o cintilar do mundo na simplicidade, e a riqueza, na singeleza de palavras – o encontro fortuito de nós mesmos. Penso que só escrevo porque leio, e leio porque escrevo. Ainda que tenha ideias divergentes, críticas ou congratulações, só serei capaz de fazê-los se ler. Creio que ler é um ato de libertação, de reflexão e de construção de si mesmo e do mundo.

A inquietude, originada pela simples pergunta, levou-me a refletir profundamente, e pela primeira vez deixei o lápis repousar sobre o papel branco por um longo tempo. Então, concluí que talvez não existam bons motivos para ler o que escrevo, ou motivos convincentes, mas também não existe motivo que lhe impeça de ler!

Além disso, inúmeros são os benefícios que a leitura nos proporciona, desde o desenvolvimento da criatividade, diminuição do estresse, estímulo de diferentes partes do cérebro e até mesmo aumento da expectativa de vida, como aponta a Revista Galileu, em um estudo feito por diferentes universidades americanas, tais como Universidade Yale, nos EUA; Universidade de Toronto, no Canadá; Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

Escrevo “do simples rés do chão”, como nos traz Antonio Candido, e busco, mesmo que infimamente, retomar a ternura das coisas esquecidas, do olhar ao outro para além de nós, do contemplar admirado das paisagens naturais e a doçura das memórias de infância, doçura esta que nos falta na vida adulta. Se não falarmos sobre as coisas mais simples, quem falará?

Ainda que nos faltem tantas virtudes, e nossos olhos estejam cegos pela rotina e nossas mentes deprimidas e oprimidas pela ansiedade, que façamos da leitura um hábito, a chave para compreensão do mundo e de nós mesmos, exercício de paciência, reflexão e ampliação do horizonte da visão crítica. E quando a dúvida lhe cercar, questione-se: Por que não ler?

Foto: Pexels

 

Coluna Lettera

por Francielly da Rosa

Francielly da Rosa é graduada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, com ênfase em estudos literários, também na UEPG. Ela é escritora, cronista e coautora do livro "Crônicas dos Campos Gerais". Descobre, entre as palavras que lê e escreve, a motivação que sustenta seu viver. Escreve crônicas, contos, poesias e, às vezes, se aventura no gênero romance. Além disso, participa de projetos de incentivo à leitura e de outras atividades culturais. Possui diversas crônicas premiadas e publicadas em jornais e sites locais. Em virtude de seu trabalho como escritora, recebeu duas moções de aplauso da Câmara Municipal de Ponta Grossa. Também foi premiada no Festival Literário de São Caetano do Sul, na categoria miniconto, sendo a única representante da cidade de Ponta Grossa.