Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2024

Artigo: “O que faremos?”, por Luiz Claudio Romanelli

2020-06-04 às 11:06

“Não sei se tudo vai arder como algum líquido inflamável. O que mais pode acontecer num país pobre e miserável?” – Titãs.

Não há dia que não se reavalia o que estamos fazendo no enfrentamento à pandemia do coronavírus. Medidas, projetos, leis, prevenções, apoio ao setor produtivo, e principalmente, aos mais pobres com incentivos e auxílios nessa travessia que esperamos que não perdure até o próximo ano. O que faremos e o que podemos fazer mais? Tenho certeza que esse é o pensamento que permeia as ações dos agentes públicos, empresários, trabalhadores, da mãe e pai de família.

Muitas mudanças estão acontecendo – solidariedade, comunhão e superação, exemplos da nossa humanidade perante a fragilidade da vida – e muitas ainda vão acontecer nas relações interpessoais, desde do teletrabalho para alguns setores da economia até simples protocolos de higiene que já deviam ser padrão de sociedade que se diz moderna.

Se constata também para as lideranças e elite brasileira o quão desigual é o nosso país, o que beira a uma terrível ‘normalidade’ do mundo, e que essa desigualdade sempre penaliza os mais vulneráveis em qualquer tragédia que macula a nossa integridade e inteligência.

O que faremos, o que estamos fazendo – com mais acertos, assim espero, do que erros -, isso é que nos marca. Não vamos pecar pela omissão, nem esperar que as alternativas brotem de algum desígnio, e sim confiar na ciência e na nossa capacidade de encontrar as soluções nesta quadra e caminhada. É este o nosso desígnio.

Desde que foi registrado o primeiro caso de coronavírus no Brasil, em São Paulo, no dia 26 de fevereiro, quando um homem de 61 anos deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein, com histórico de viagem para Itália, região da Lombardia já se passaram 96 dias de alerta das autoridades sanitárias e de um crescente número de contaminados Brasil afora.

No Paraná, os primeiros casos foram registrados em Curitiba e Cianorte, no dia 12 de março. Portanto, há exatos 81 dias. Desde então, uma série de medidas foi adotada pelo Estado e confirmadas pela Assembleia Legislativa, não somente no combate à pandemia, mas, sobretudo aos efeitos que provocaram e continuam provocando. O pior ainda não passou, ao contrário.

Além das prevenções de saúde, adotamos várias medidas de controle da curva da doença, o que fez do Paraná um dos estados com o menor número de contaminados. Tais medidas provocaram reações diversas em todos os segmentos. Mas elas foram necessárias e, agora, pode chegar a hora de pensarmos no novo Brasil e no novo Paraná pós-pandemia. Mesmo assim, não devemos baixar a guarda.

Talvez uma das tarefas mais preocupantes, além da questão da saúde, está em relação ao desemprego. No Paraná, perdemos algo em torno de 55 mil vagas. No campo nacional, esses números, infelizmente, e as previsões são mais assustadores.

Dentre algumas das medidas de controle do coronavírus, tivemos o fechamento total ou parcial do comércio, shopping centers, bares, restaurantes, academias, salões de beleza e vários outros estabelecimentos considerados não essenciais. Alguns desses segmentos defendem o retorno das atividades, com restrições e prevenções. Outros ainda caminham para isso.

No caso da indústria, não houve nenhuma restrição. Até porque, a produção é considerada uma atividade essencial. Mas vale lembrar que a indústria paranaense trabalhou neste período para atender às encomendas feitas antes da pandemia, o que resultou em manter os empregos.

Agora, com 90 dias desde a confirmação dos primeiros casos no Paraná, a indústria também sofre um revés. Afinal, já que as encomendas foram entregues e novos pedidos não foram feitos na mesma proporção, a perspectiva é de queda de produção para os próximos meses e, inevitavelmente, aumento do número de desempregos.

Em Curitiba e nas cidades industriais, o impacto será maior que nos municípios menores, onde a agroindústria exerce um papel fundamental. Aliás, vale ressaltar mais uma vez que o agronegócio ainda é o grande responsável pela manutenção da economia no Estado, a exemplo do que acontece no Brasil. Ainda continua sendo o setor que está empregando, ao invés de demitir.

Por outro lado, o Estado e a União tiveram de adotar medidas socioassistenciais para garantir duas coisas importantes: Prover renda às famílias em vulnerabilidade social por meio de auxílio emergencial e a manutenção dos empregos.

Isso se dá porque, com o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal, e o complemento de R$ 50 do Estado aquecem somente parte da economia. Por outro lado, em agosto, se espera uma lenta e gradual retomada da normalidade. Aí surge um novo desafio: reconquistar as vagas de emprego perdidas durante a quarentena. Desafiador, é verdade.

Já estamos conversando com lideranças sindicais e empresariais para definir quais políticas públicas devem ser implantadas no Paraná sem descuidar que o cenário é ainda muito preocupante.

Mesmo assim, não paramos. O Estado, por exemplo, antecipou R$ 20 milhões para a compra de alimentos oriundos da agricultura familiar. É um valor limitado perante a esta crise, mas faz com que esse dinheiro circule na própria comunidade, que vai comercializar alimentos por meio das 148 cooperativas e associações da agricultura familiar.

Outra medida está na retomada das obras públicas. A Fundepar garantiu mais de R$ 100 milhões para 156 obras escolares durante a pandemia. São construções de novas escolas, ampliações de espaços, reparos e de restauração. Com isso, cerca de 1,4 mil empregos diretos foram mantidos nos canteiros de obras.

Um plano para a retomada da economia deve contemplar todos os setores, do industrial ao turismo, obedecendo a critérios técnicos, sanitários e epidemiológicos. O que temos que evitar é o nonsense que impera em alguns espaços e setores no país.

Estamos no meio de uma pandemia que ninguém sabe quando termina, com 584.016 pessoas contaminadas, 32.548 mortes, a curva crescendo, grave crise econômica, e a pauta em Brasília é sobre fake news, bravatas e ameaças de golpe. Esse é um dos combates. O outro: não podemos afrouxar ou modular o isolamento social. É essa a nossa responsabilidade e o nosso guia.

Por: Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná.

Foto: Assessoria de Comunicação